“Quem passou pela vida em branca nuvem
E em plácido repouso adormeceu,
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu,
Foi espectro de homem, e não homem,
Só passou pela vida, não viveu…” Francisco Otaviano
Mais um maravilhoso e produtivo ano passou. Quem tem olhos de ver, que aproveite todas as experiências, lições, surpresas e disciplina que estes doze meses nos ensinaram. Algumas situações tidas como ruins, nos deixaram atônitos; outras, muito boas, nos convidaram ao trabalho e dedicação. Não estamos no mundo, vivos, encarnados, para um passeio. Pelo contrário, se formos bem espertos, estamos aqui para aprender, e aprendizado é sempre exaustivo. Eu aprendi que todos querem viver no topo da montanha, mas toda felicidade e crescimento ocorre quando você está escalando-a. William Shakespeare
Se analisarmos o movimento dos freqüentadores do grupo, por um lado alguns perseveraram, por outro lado, os exemplos não conseguiram mobilizar a Fé. É interessante a liberdade que temos como brasileiros. Não nos damos conta de que as amarras da religião aqui são frouxas, quase inexistentes. Cada um tem plena liberdade para colocar suas algemas, se as desejar, ou experimentar a liberdade de pensar, agir e escolher, se lhe for atraente. É uma pena que não aprendamos com a História, os nossos próprios valores e evolução.
Há dois mil anos atrás, um Ser iluminado e sublime, esteve entre nós, convidando a experimentar a Liberdade. Poucos aceitaram e aceitam o convite. Ser livre dá muito trabalho. Obedecer é mais fácil. Observando os dias de hoje, fica muito nítido as divisões das escolhas dos seres. Uma parte, no Oriente, extremamente submissa. Uns, ainda escravos do desejo de seus líderes, outros submissos a um ideal de comportamento que é tido como o melhor para a sociedade em que vivem. De um lado Buda, inspirando o comportamento pleno para viver em sociedade, como ser grupal; de outro lado, aqueles que deturpam a mensagem de Maomé, e implantam a escravidão e submissão total do homem pelo pensamento de outros homens. O resultado num mundo em que tudo está agilizado, é a destruição em massa, rápida, eficiente. Conhecimentos acumulados nos últimos quarenta mil anos, foram destruídos em apenas quatro anos. Cidades e monumentos históricos desapareceram do imaginário oriental. Isto é mal, isto é bom? Há mais mistérios entre o Céu e a Terra, do que possa imaginar nossa vã filosofia; Shakespeare outra vez.
Na velha Europa, uma parte de sua gente, não está interessada no Homem de Nazaré. Para eles, é um fraco, que se deixou imolar na cruz. O poder é muito mais interessante para ser conquistado. Outra parte, ficou presa à forma, não ao conteúdo. Buscam o Mestre limitados ás palavras, ortodoxia, dogmas, regras milenares, copiadas e outras tantas duplamente antigas. Buscam a Fé, unicamente pela Fé. Explicam o Homem, na sua única passagem registrada pelos sentidos daqueles que estão ao seu lado naquele momento. Um homem finito, sem perspectiva, com defeitos permanentes, com uma chance de se redimir, mas que não se sabe se assim o fez. Para estes que pensam assim, o homem tem que ter Fé cega, morrer com sua Fé; mas não conseguem construir um destino melhor para ele. Uma prisão para os prisioneiros da Fé não raciocinada. Ao mesmo tempo o homem descortina o espaço, bisbilhota o Universo.
No Novo Mundo, ao norte, parte dos europeus, judeus e depois africanos construíram um pilar de crenças onde os ensinamentos bíblicos são a base de sustentação. Soma-se a isto a capacidade do homem de evoluir, escolher, decidir, ambicionar, e lutar pelos direitos individuais. Para conquistar a Liberdade é preciso seguir regras. A França declarou Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Os EUA tem a Liberdade como seu símbolo máximo. Originalmente, os revoltosos e libertadores franceses, pensaram em Liberdade e Igualdade. Diante a possibilidade de despertar mais revoltas do que a Paz, foi acrescentado Fraternidade.
Liberdade, em filosofia, significa a ausência de submissão, de servidão e de determinação, isto é, ela qualifica a independência do ser humano. De maneira positiva, liberdade é a autonomia e a espontaneidade de um sujeito racional. Isto é, ela qualifica e constitui a condição dos comportamentos humanos voluntários. Historicamente, liberdade constitui um direito natural do ser humano, proveniente da liberdade absoluta, praticada em seu estado de natureza que, paulatinamente, evoluiu para as regras civis, regido pelo contrato social idealizado por Thomas Hobbes (1588-1679), contemplando a vontade da maioria, século XVII.
Ao mesmo tempo que se falava em Liberdade, o comércio praticado pelos navios negreiros atinge seu ápice durante o século XVII. O Brasil foi o maior comerciante de escravos negros da história do homem. Só parou de contrabandear escravos quase no final do século XIX, perto do fim do Império. Do mesmo jeito que o contrabando e as drogas, são distribuídas para o mundo pelo Paraguai e Colômbia, saindo pelo Brasil, até um século e meio atrás, os escravos também eram contrabandeados, via portos brasileiros.
Enquanto isto, os países da América do Sul se tornaram extensões dos conceitos religiosos de Roma e Vaticano. Em nome de Jesus, foi permitido todos os tipos de atrocidades, destruição de povos, conquista de minas de materiais preciosos, regidos pelas leis da Santa Inquisição. A Igreja Romana, tão distante, manteve seus tentáculos autoritários até recentemente. Só está perdendo força, com o avanço surpreendente dos novos pentencostais, que souberam substituí-la usando dos mesmos recursos, tão impregnados no imaginário e mental da população sul americana.
No Brasil, somente em 1774, século XVII, o Santo Ofício começou a ser desativado. Aqui os padres marcaram sua trajetória como pescadores de almas, parteiros e até revolucionários. Estavam muito longe de Roma e isto de certa forma os libertava das correntes canônicas. Nesta descrição abaixo, feita por um estudioso católico, vemos a Fé cega, justificando os abusos, antítese do pensamento Kardecista:
“Não obstante as falhas que se podem apontar contra todo e qualquer sistema repressivo, não é lícito nem honesto ver na atuação da Inquisição ou Santo Ofício somente a face negativa. Houve também vantagens para a fé e os bons costumes, evitando-se tolerância em demasia com desvantagens para a pureza da fé ou com atropelos dos mandamentos divinos, visto que a Inquisição não empregava somente a repressão, mas também a persuasão para corrigir desvios na fé ou nos costumes. Ademais, para muita gente que se deixa levar mais pelo temor que pelo amor, por muitas causas que não é o caso de abordar, toda ação coercitiva, quando psicologicamente bem orientada, pode ter seus reflexos positivos. Aliás, o Santo Ofício era, antes do mais, um tribunal eclesiástico que tinha em mente mover o culpado a reconhecer seu pecado, detestá-lo e prometer emenda. Só em casos de pertinácia agia com penas que variavam segundo a gravidade do delito e a renúncia ao perdão.”¹
Pensamentos como este é que sustentam os trabalhos de desobsessão.
No Brasil, com seus defeitos e virtudes, muitos defeitos e muitas virtudes que se emaranham, sem que possamos encontrar as pontas, a Liberdade para pensar anda a galope. Podemos pensar, falar, agir, ajudar, roubar, matar, difamar, colaborar, ensinar o bem, ensinar o mal, fazer de conta que ensina, fazer de conta que aprende, ser alegre em exagero, ficar descrente em toda sua plenitude, exaltar a desgraça, aceitar o inaceitável. Quantos dentro da Humanidade inteira têm esta oportunidade? Em sete bilhões e meio de encarnados, apenas duzentos milhões podem ter esta experiência única. Como dizia Vicente Mateus, invendável e imprestável.
Dentro deste imenso Universo aos nossos olhos -ínfimo espaço no olhar divino – aqui estamos nós, pouco mais de duas dezenas de seres, que se reúnem numa noite da semana, numa pequena casinha de oração, buscando compreender porque existo, quem sou, para onde vou… Mesmo que nenhum de nós encontre as respostas, pelo menos aprendeu um novo caminho. Uns optam por segui-lo, outros, vem, conhecem e não se interessam. Alguns percorrem um pequeno trecho e retornam para o velho hábito conhecido, outros esperançosos, tem hora que cansam, mas continuam insistindo em seguir adiante. Onde vai dar? Talvez em lugar algum, dentro do conceito que conhecemos. É apenas mais uma caminhada, uma experiência de convívio com a dor do próximo. Alguém sai beneficiado desta experiência? Não importa a resposta. Somos seres em evolução, mudando um pouco aqui, um pouco ali… Uma coisa é certa. Não desejamos mais ser prisioneiros da Fé sem obras e sem a razão.
Isto mesmo que somos, quando não escolhemos pensar … prisioneiros de nós mesmos. A Vida é dura, sem piedade, sem compaixão. O bem é escolha interna de cada um. Não se colhe, não se compra, não se conquista do lado externo. Tudo é perfumaria, igual enfeite de árvore de Natal. Chega janeiro, sumimos com tudo, até com a fraternidade natalina. Só restamos nós mesmos, nosso âmago, nossa força ou desgraça interior.
Mesmo que tudo o que acreditamos hoje, não exista amanhã, não perdure, nem sobreviva, ainda vale à pena buscar a Paz interior. Lutar docemente contra nossas fraquezas de hoje, talvez não nos prepare para os desafios do futuro. Hoje a Doutrina Espírita é um bálsamo. Um macio e aconchegante berço. Quem sabe o que teremos amanhã? Quais dores, quais desafios, quais frustrações, quais amigos a nos apoiarem, quais inimigos a nos fustigarem… Isto tudo virá pela frente. As entidades espirituais com quem conversamos nos mostram isto. Trazem um presente dolorido, alicerçados num passado tenebroso. Mergulhamos junto com cada um deles, queremos ira lá longe, dar as mãos, arrancá-los do lodaçal, trazê-los para a nossa Esperança. É isto que fazemos neste instante, recolhemos de nós, o que temos de melhor, e oferecemos ao outrem uma nova oportunidade. Tem gente que acha melhor dar dinheiro, cesta básica, brinquedo no Natal, contribuição mensal para entidades. Nós escolhemos doar nossas melhores energias com o nome de Esperança. Que nome lindo, Esperança!
Atendemos uma companheira do coração. Em espírito fomos até sua casa, vasculhamos cada pedacinho, conversamos com as entidades, socorremos os desesperados, impregnamos de Esperança aquele lar. O passado é implacável com todos nós. Meu passado me condena, é o slogan de cada um. Se fosse novela, um dia teria um final feliz. Na Vida, não tem final, tem mudança e recompensa para o bem ou para o mal.
A casa estava com o teto forrado com um pano preto, sujo. De lá caia fuligem sobre todos que nela viviam. É bem simbólico este recurso. Forra-se a casa com o negro, insuflam pensamentos negativos, que vão impregnando a forração e depois caem sobre os moradores da casa. Quem de nós, já não entrou em um ambiente, e não gostou do que “viu” e sentiu? É interessante porque não vemos mas sabemos que vimos. Não sabemos explicar, mas sabemos que alguma coisa desagradável está lá. O plano espiritual, trabalhadores experientes, veio com suas tochas reluzentes, e utilizando as energias ectoplasmáticas do grupo, fez a limpeza, dissolveu os miasmas, limpou o ambiente.
Ele dizia ser um polvo. Com seus tentáculos perturbava todos os ambientes da casa.
– com os meus tentáculos domino todos os lugares desta casa
Aos poucos, a hipnose foi sendo desmanchada e voltou a ser apenas humano. Ficou surpreso. Não sabia de seu estado. Não era inimigo daquela família. Foi colocado lá, acreditando ser um molusco, com a finalidade de perturbar.Foi encaminhado para sua nova Esperança.
A mulher chegou com autoridade. Tinha poder, vivia no ano de 1200. Não estava entendendo as roupas que as pessoas estavam vestindo.
– que roupas são estas?
– são as roupas que usamos agora. Em que ano você está?
– 1200. Minhas roupas são bonitas. Veja a armação do meu vestido…
– o tempo hoje é outro. Estamos em 2016, tudo mudou. Veja quem chegou para conversar com você…
A amiga veio para conversar e explicar o que estava acontecendo com ela.
Necessariamente este espírito não ficou todo este tempo sem reencarnar. Pode ser uma cristalização, que apesar de outras experiências reencarnatórias, não dissolve as lembranças do passado. O choque da reencarnação, não é suficiente para provocar experiências diferentes e enviá-la para o presente. Será preciso um longo treino de atualização para experimentar novamente a reencarnação. Lembrando sempre que tempo no plano espiritual corre diferente do material. Às vezes tem que ser uma reencarnação sem atividade cerebral, ou bastante limitada, para não “buscar” novamente o passado cristalizado. Igual uma esfoliação de pele, para renovar as células.
Debaixo da cama do casal estava infestado de espíritos. Tempo e espaço, independem da matéria. Obedece a leis mentais. Aos poucos todos foram encaminhados. Nestas situações, a multidão é composta de espíritos que não sabem o que fazem. Estão lá porque lá foram colocados. Uns poucos começam a desconfiar que alguma coisa está errada. A maioria, não tem noção se vivos ou mortos. Lá foram colocados, lá ficam. Estes serão ajudados, mas basta abrir uma brecha e outros serão trazidos para o mesmo lugar. Quem toma conta da nossa casa material e da nossa casa mental, somos nós mesmos. O plano espiritual vem, colabora, encaminha, ajuda e mas não fica de plantão, de porteiro, tomando conta do que é nosso.
Um mentor, amigo da família recomendou: Cuidado com o que ouve. Os espíritos ficam dando idéias e sugestões na sua cabeça. Cabe a você selecionar o que é bom e o que não é. Não deixe todos os pensamentos ocuparem igual espaço na sua alma. Pensamentos negativos, esdrúxulos, confusos, que não são normalmente conhecidos, não podem ser levados em conta. Têm que ser desqualificados.
Recomendações como esta, pertencem a todos nós. Nos momentos de preocupação, ficamos abertos às más influências. Cada um procure se defender, isolar, preencher com positividade os próprios pensamentos. Normalmente utilizamos o recurso das músicas em alta vibração. Ficam sendo tocadas dia e noite. Quando passamos pelo ambiente, automaticamente elevamos nosso pensamento e nos colocamos em estado de prece. Esta seleção musical está à disposição no site da FEAS.
Que todos se mantenham em PAZ. Logo estaremos juntos outra vez.
¹ livro A Igreja no Brasil – Arlindo Rubert