Não vou ter que pagar nada em troca!?

 

Dia dois de fevereiro
Dia de festa no mar
Eu quero ser o primeiro
A saudar Iemanjá
Dia dois de fevereiro
Dia de festa no mar
Eu quero ser o primeiro
A saudar Iemanjá
Escrevi um bilhete a ela Pedindo pra ela me ajudar
Ela então me respondeu
Que eu tivesse paciência de esperar
O presente que eu mandei pra ela
De cravos e rosas vingou
Chegou, chegou, chegou
Afinal que o dia dela chegou
Chegou, chegou, chegou
Afinal que o dia dela chegou

Dorival Caymmi

 

 

Que bom que novo ano de trabalho começou. A reunião mais uma vez trouxe alegria para nós que nos colocamos como soldados de uma causa do bem. Não importa como fazemos, se fazemos certo ou errado, estamos aprendendo sempre, buscando melhorar sempre, com a certeza que os resultados são muito satisfatórios nos dois planos, cá e lá.

 

Na preparação, o dirigente exaltou a proteção da equipe espiritual que acompanha o desenrolar do trabalho. Na leitura do livro de estudo¹ foi destacado a mensagem do quanto o grupo tem que confiar que está sob proteção dos trabalhadores do plano espiritual. “… Gosto de ver, na luta do bem contra o mal, a vitória do bem…. Permitimos o ocorrido para que servisse como aprendizagem para a médium, mas estávamos a postos juntamente com a equipe de guerreiros que protege a casa”. Com explica o texto estudado, o grupo tem que ter fé e confiança, não duvidar que está sendo acompanhado e protegido das intempéries e situações difíceis que muitas vezes surgem durante o atendimento. Estas palavras de confiança na preparação, são importantes para os médiuns e dialogadores. Quantas vezes somos sobressaltados pela dúvida, ou sensação de que não estamos compreendendo, e a lembrança das palavras iniciais, acabam por fortalecer a confiança e impulsionar o atendimento.

 

A mensagem do mentor na abertura, reforçaram o alerta: o trabalho para o bem independe de onde estamos, podemos exercer nossas atividades em qualquer lugar.

 

Bastou da a palavra de ordem para o início dos atendimentos e o espírito se manifestou. Dizia que estava amarrado em correntes. Se sentia amarrado. Foi sendo inspirado para perceber o que realmente estava acontecendo com ele.

– não quero ficar aqui, vocês me amarraram, quero voltar para meu buraco

– ninguém te amarrou aqui; veja onde você está

– quero voltar para lá, meu buraco, escuro

– quem te prendeu lá? Porque te acorrentaram?

– foi aquele homem negro, ele me colocou lá

– e antes onde você estava, lembre antes, sem as correntes…  você está com medo?

– estou…com medo…

– veja como está se libertando… aqui você está protegido… ouça o que estão falando para você…

– veio um padre, ele vai me levar, vou com ele…

 

          – Apague esta luz.

– esta Luz não é controlada por nós, pertence ao Universo

– sou das trevas, gosto da escuridão, tenho poder…

– nós não estamos aqui para competir com você, nem brigar com o seu poder…

– o que você está fazendo!?…. sinto diminuir minhas forças…

– é que você está entendendo que a escuridão não é um poder…

– o que fizeram comigo!?  Não tenho mais força….

– você agora vai dormir, aos poucos estes miasmas que te envolvem serão dissolvidos, quando acordar estará se sentindo melhor

 

 

          – Não quero ficar aqui, porque você me trouxe aqui, eu e elas?….

– precisamos conversar, queremos ajudar vocês

– agora? Só porque estão ajudando ela, é que resolveram ajudar a gente?

– ah coitada! Ninguém nunca quis ajudar… ninguém nunca chegou perto falando coisas boas…

– não precisa falar desse jeito, fazendo chacota…

– e você não precisa se fazer de injustiçada… faz tempo que querem ajudar todas vocês…

– como?…. de que jeito?… não dá… vamos acreditar… tá bom, vamos com vocês…

 

            – Onde está o tribunal, queremos que nos levem para sermos julgados

– aqui não tem tribunal, ninguém julga ninguém

– mas precisamos ser julgados e cumprir a pena, somos assassinos

– não tem juiz, nem condenação. Você quer se livrar da culpa na consciência, cumprindo uma pena que alguém impôs.

– é isso, todos nós somos culpados e precisamos cumprir nossas penas

– é a consciência de cada um que está acusando. Vocês só vão se aliviar das culpas através do próprio esforço em restaurar o mal que foi feito

– como é que vamos fazer isto?

– provavelmente irão retornar junto das pessoas que fizeram o mal, para consertar o que foi feito

– mas elas vão nos receber, vão aceitar a gente perto delas?

– este é o benefício do esquecimento. Vocês vão reencarnar junto das pessoas que foram agredidas, e todos terão esquecido do que aconteceu. Vai ficar a oportunidade de fazerem o bem umas paras as outras….

 

 

O médium diz: não tem nada, tá vazio, não tem ninguém…

É feito uma indução magnética: veja nas malas e caixas, eles estão escondidos lá

– porque me trouxeram aqui seus metidos…

– lá não é lugar, agora você vai ficar aqui

– esse índio metido (e outros xingamentos)

– o índio é grande…

-sei que ele é grande, não tenho medo dele (continua a xingar)

– ele não é só grande, tem poder. Ele está sorrindo para você porque sabe o poder que tem

– não quero saber e continua com os impropérios

– agora você vai ficar aqui em um dos nossos alojamentos… vai ter tempo para pensar e compreender o que estamos oferecendo…

A quem dialogava foi mostrado uma cama com lençóis brancos, muito alvos e uma cela num corredor hospitalar

 

Depois deste, outros também se manifestaram da mesma forma.

 

Ela chega reclamando – só porque é ela, vocês estão ajudando, mas não ajudam a gente

– como não? Veja onde vocês estão agora… Viu que jardim lindo?

– é lindo mesmo…. mas nós não podemos ficar aqui, temos que voltar para a floresta, ela está lá esperando a gente

– não precisa voltar lá. Vamos todas passear neste jardim, andem entre as flores

– que perfume… as rosas… temos que ir pra lá. Ela faz aquela roda de pedra lá na floresta, vai bater na gente…

– não precisa mais voltar… podem sentar nos bancos do jardim…

– mas nós podemos sentar no jardim tão lindo!?

– podem sim… se acomodem… relaxem… fechem os olhos… durmam….

 

Agora fomos atrás da chefe, lá na floresta

– onde estão minhas meninas   … você tiraram minha meninas…

– elas agora estão livres… você também está livre daquelas porcarias que te prendiam

– não são porcarias… o índio destruiu tudo o que é meu… e agora o quê que eu vou fazer, fiquei sem nada…

– você pode trabalhar conosco… com o que você sabe fazer, será muito útil para fazer o bem

– eu!? não tenho nada…

– você tem tudo isso

– tudo!? que tudo você está falando?

– o que você conhece é seu tudo e pode ser muito útil para o bem, nós precisamos de gente para nos ajudar

– o que tenho que pagar?

– pagar nada, só o seu trabalho

– só meu trabalho!? Não vou ter que pagar nada em troca!?

– é o seu trabalho… todos nós aqui pagamos com nosso trabalho…

– o índio aqui falou que vou ter que aprender do zero a fazer as coisas

– aprender como fazer, mas o que você já tem dentro de si é seu…

– o índio disse que vou poder ficar aqui na floresta… não gosto de vestir roupas igual vocês… gosto de viver aqui… vou com ele.

 

Ao mesmo tempo, outros espíritos se comunicavam de maneira irredutível. Não queriam nada do que era dito ou oferecido. Resistentes, intransigentes. Foram sem aceitar ajuda.

 

          – Sou uma mulher, você está vendo meu vestido, como é lindo?

– agora não nos vestimos mais deste jeito

– não gosto das suas roupas, quero meus vestidos…

– o que você está fazendo aqui?

– estou atrás dele, era meu amante

– em que ano você está?

– vivo no século XVI

– faz muito tempo que você morreu, já passou, estamos no século XXI.

– como! estou viva, muito viva!

– ninguém vive 500 anos seguidos, você já morreu muitas vezes, mas está fixada nestas lembranças…

– mentira! estou viva, veja minhas roupas!

– suas roupas ficaram velhas, o tempo passou, nenhuma roupa dura tanto… Veja quem vem vindo…

– é ele!… está vestido como um bufão… está com as roupas que eu gosto…

– ele veio vestido assim para você poder reconhecê-lo… está aqui para conversar e explicar as coisas para você… preste atenção em tudo o que ele vai dizer…

– posso ir com ele?…..

 

Chegou meio desafiadora. – Não adianta tirar a gente das malas. Somos muitos

– mas vão ter que sair das malas. Temos aqui um transporte muito melhor do que apinhar nas malas

– não precisa, somos muitos e cabe tudo nas malas

– estamos convidando todos vocês a irem para esta lugar… veja como é bom e bonito

– não queremos, vamos ficar com ela

– agora não vão mais, lá vocês não vão voltar

– apagaram os rastros? …. depois ela chama a gente de novo…

– agora vocês não voltam mais pra lá. É ir para este lugar bonito ou vocês terão que procurar outro lugar para ficar, não tão bonito

– não queremos ir para este lugar

– você não quer… seus amigos querem… já entraram no primeiro ônibus… mais da metade já foi…

– eu não vou

– eles estão entrando no segundo ônibus… vai partir… corre…

– não quero ir para lá, prefiro ficar sozinha por aí

 

Centenas de atendidos. No encerramento o mentor depois de exaltar o trabalho realizado nos alerta “tenham confiança… às vezes nos desviamos de nosso caminho para poder recuperar o que deixamos para trás.”

 

 

¹ livro O Drama de Um Desconhecido – Luiz Gonzaga Pinheiro

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