Estratégia, preparo, capacidade, objetivo, destemor…

O extraordinário diálogo entre Gúbio e Gregório no livro LIBERTAÇÃO de André Luiz no capítulo 8, Inesperada intercessão é um dos pontos altos do estudo da Doutrina Espírita esclarecida por Chico Xavier.

 

Continuando o diálogo… “Não te reprovo, nem te acuso, pois nada sou. E ainda que o Senhor me conferisse algum alto encargo representativo, não me competiria julgar-te, senão depois de haver vivido a tua própria tragédia, experimentando as tuas próprias dores. Sei, porém, que pelo amor e pelo ódio do pretérito ela permanece intensamente ligada aos raios de tua mente e todos sabemos que os credores e os devedores se encontrarão, uns com os outros, tarde ou cedo, face a face…”

 

Gúbio não coloca o que pensa ou sente. Procura se colocar no lugar de Gregório, sentir o que ele sente, compreender sua dor e desatino. Não demostra medo nem recuo, e sim, sabedoria e compreensão da dor humana.

 

“…Entretanto, a atual existência dela envolve largo serviço salvador. Desposou antigo associado de luta evolutiva que te não é estranho ao coração e reinará, maternalmente, num lar em que devotados benfeitores, organizarão formoso ministério de trabalho iluminativo. Espíritos amigos da verdade e do bem se preparam a receber-lhe a ternura materna, quais flores abençoadas pelo orvalho celeste, em caminho de preciosa frutificação. Venho rogar-te, pois, seja suavizada a vendera cruel. Nossa alma, por mais impassível, modifica-se com as horas. O tempo tudo devasta e nos subtrai todos os patrimônios da inferioridade para que a obra de aperfeiçoamento permaneça. A matéria que nos serve às manifestações modifica-se com os dias. E, por mais invencíveis que fossem os poderosos Juízes aos quais obedeces, não ultrapassariam eles, de nenhum modo, a autoridade soberana do Todo-Misericordioso que lhes permite agir em nome da corrigenda, afeiçoando-lhes a tarefa ao bem comum….”

 

“…Pesados minutos de expectação e silêncio caíram sobre nós. Nosso instrutor, no entanto, longe de desanimar, retomou a palavra, em voz súplice: – Se ainda não consegues ouvir os recursos interpostos pela Lei do Cordeiro Divino que nos recomenda o amor recíproco e santificante, não te ensurdeças aos apelos do coração materno. Ajuda-nos a liberar Margarida, salvando-a da destrutiva perseguição. Não se faz imperioso o teu concurso pessoal. Bastar-nos-á tua indiferença, a fim de que nos orientemos com a precisa liberdade. O hierofante riu-se, contrafeito, e acrescentou: – Observo que conheces a justiça. – Sim – concordou Gúbio, melancólico. O anfitrião, contudo, falou sem rebuços: – Quem lavra sentenças, despreza a renúncia. Entre os que defendem a ordem, o perdão é desconhecido. Determinavam os legisladores da Bíblia que os arestos se baseassem no princípio da troca: “olho por olho e dente por dente”. E já que te mostras tão bem informado acerca de Margarida, poderás, em sã consciência, suprimir as razões que me compelem a decretar-lhe a morte?…”

 

Veja que Gúbio sabe que o caminho pela frente não será fácil. O assédio destrutivo sobre Margarida obedece às ordens dos julgadores. “Quem lavra sentença, despreza a renúncia”. Gúbio não pede nenhuma ação a favor de Margarida. A ação será de responsabilidade dele. Se contenta apenas com a trégua que Gregório possa proporcionar no desejo de levar Margarida à morte. Nada será instantâneo, nem um milagre cairá do céu.

 

“…– Não discuto os motivos que te conduzem – exclamou nosso orientador, entre aflito e entristecido –, todavia, ouso insistir na súplica fraterna. Auxilia-nos a conservar aquela existência valiosa e frutífera. Ajudando-nos, quem sabe? Talvez, pelos braços carinhosos da vítima de hoje poderias, tu mesmo, voltar ao banho lustral da experiência humana, renovando caminhos para glorioso futuro. – Qualquer ideia de volta à carne me é intolerável! – gritou Gregório, contrafeito….”

 

O inimigo, aquele que ataca e quer destruir, pode naturalmente ser atraído magneticamente para o seio daquela atacada. Como a Sabedoria Divina é magnífica e incontrolável pelo desejo humano. Tem um ditado que diz o homem faz, Deus desfaz

 

“… – Sabemos, grande sacerdote – continuou Gúbio, muito calmo –, que sem a tua permissão, em vista dos laços que Margarida criou com a tua mente, poderosa e ativa, ser-nos-ia difícil qualquer atividade libertadora. Promete-nos independência de ação! Não te pedimos sustar a sentença, nem pretendemos inocentar Margarida. Quem assume compromissos diante das Leis Eternas é obrigado a encará-los, de frente, agora ou mais tarde, para resgate justo. Rogar-te-íamos, contudo, adiamento na execução de teus propósitos. Concede à tua devedora um intervalo benéfico, em homenagem aos desvelos de tua mãe e, possivelmente, os dias se encarregarão de modificar este processo doloroso….”

 

 

Sem a tua permissão, ser-nos-ia difícil qualquer atividade libertadora, concede um intervalo… modificar o processo doloroso. Você está entendendo a dificuldade de socorrer ou ser socorrido num processo de obsessão? O trabalhador espírita, desejoso de socorrer a dor humana, encarnada e desencarnada, não pode querer se dizer inocente, crédulo, cheio de amor para dar. Tem um ditado que diz de boa intenção o inferno está cheio. Mas tem outro ditado, mais profundo que diz não existe virgem na zona. Espírita bonzinho, crédulo, inocente, pode ser fuga, disfarce, falsa aparência e desastre iminente.

 

“…Demonstrando expressão de surpresa, em face da imprevista solicitação de adiamento, quando, nós mesmos, esperávamos que o orientador se impusesse, reclamando revogação definitiva, Gregório considerou, menos contundente: – Tenho necessidade do alimento psíquico que só a mente de Margarida me pode proporcionar. Perguntou Gúbio, mais encorajado: – E se reencontrasses o doce reconforto da ternura materna, sustentando-te a alma, até que Margarida te pudesse fornecer, redimida e feliz, o sublimado pão do espírito?

 

Alimento psíquico que a outra mente me proporciona… Está entendendo as dificuldades dos rompimentos dos laços na obsessão? Desobsessão requer tempo, mudança de qualidade mental.

 

“…O sacerdote levantou-se pela primeira vez e clamou: – Não creio… – E se propuséssemos semelhante bênção em troca de tua neutralidade ante o nosso esforço de salvação? Permitir-nos-ias agir concomitantemente com os servidores que te obedecem às ordens? Não os inclinarias contra nós e deixar-nos-ias ombrear com eles, tentando a restauração? O tempo, dessa forma, daria o último retoque em tuas decisões…”

 

Gúbio pede a oportunidade de poder agir, sem reprimenda nem retaliação por parte dos mais poderosos no mal.

 

“… Gregório refletiu alguns instantes e redarguiu: – É muito tarde. – Porquê? – indagou nosso instrutor, inquieto. – O caso de Margarida – esclareceu o hierofante em tom significativo – está definitivamente entregue a uma falange de sessenta servidores de meu serviço, sob a chefia de duro perseguidor que lhe odeia a família. A solução cabal poderia ter sido alcançada em poucas horas, mas não desejo que ela me volte às mãos, com a revolta de vítima, em cuja fonte interior só me fosse possível recolher as águas turvas do desespero e do fel. Será torturada como me torturou em outra época; padecerá humilhações sem nome e desejará a morte como valioso bem. Atingida a rendição pelo sofrimento dilacerante, a mente dela me receberá por benfeitor, amoroso e providencial, envolvendo-me nas emissões de carinho que, há muitos anos, venho esperando… Seria infrutífera qualquer tentativa liberatória. Os raciocínios dela vão sendo conturbados, pouco a pouco, e o trabalho de imantação para a morte estão quase terminados.

 

A obsidiada está entregue a uma falange especializada no mal, sob a chefia de duro perseguidor. Poderia já ter terminado a investida sobre ela, com ela sucumbindo como vítima cheia de desespero e fel, raiva, revolta. Sofrerá até desejar a morte como alívio. Saindo do quadro dilacerante através da morte, verá seu verdugo, até então não revelado nem identificado, porque ele utilizou os outros para fazer o serviço sujo, como um protetor e ficará eternamente grata.

 

Aqui vai uma séria reflexão. Se todos os trabalhos de socorro espiritual no CISCOS fossem voltados única e exclusivamente para seus trabalhadores… dá para prever quando terminaria, quando findaria perseguições que estão ocorrendo e que sabemos muito bem quais são? No entanto quantos trabalhadores já foram atendidos nas quintas-feiras e não deram o mínimo valor para o socorro recebido e quase todos que desistiram de continua no CISCOS o fizeram após serem atendidos…

 

“…O nosso dirigente, no entanto, não se deu por vencido e insistiu: – E se nos confundíssemos com a tua falange, tentando o serviço a que nos propomos? Compareceríamos, junto à enferma, como amigos teus e, sem te desrespeitarmos a autoridade, procuraríamos a execução do programa que nos trouxe até aqui, testemunhando a humildade e o amor que o Cordeiro nos ensina. Gregório pensava, maduramente, em silêncio, mas Gúbio prosseguia com simplicidade e firmeza: – Concede!… concede!… Dá-nos tua palavra de sacerdote! Lembra-te de que, um dia, ainda que não creias, enfrentarás, de novo, o olhar de tua mãe! O interpelado, após longos minutos de reflexão, ergueu os braços e asseverou: – Não creio nas possibilidades do tentame; todavia, concordo com a providência a que recorres. Não interferirei. Em seguida, tilintando a campainha de modo particular, determinou que os auxiliares se reaproximassem. Como que semivencido na batalha em que se empenhara com a própria consciência, invocou a presença de um certo Timão, que nos surgiu pela frente surpreendendo-nos com seu semblante de carrasco. Dirigiu-lhe a palavra, indagando pelo andamento do “caso-Margarida”, ao que o preposto informou estar o processo de alienação mental quase pronto. Questão de poucos dias para a segregação em casa de saúde. Indicando-nos, algo constrangido, determinou Gregório que o auxiliar de sinistro aspecto nos situasse junto da falange que operava, ativa, na execução gradual do seu decreto de morte.”

 

E se nos confundíssemos com a tua falange?  Estratégia, preparo, capacidade, objetivo, destemor…

 

Continua….

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