Desobsessão é lidar com a urgência da dor

No final das tardes da quinta-feira, antes dos trabalhos de desobsessão da noite, nos reunimos para estudar Inácio Ferreira e seus companheiros, tais como Maria Modesto Cravo, Odilon Fernandes, Domingas, Paulino Garcia, Manoel Roberto. Enquanto eles trocam suas experiências, ideias, dúvidas, do lado de lá, retratados nos livros, aqui fazemos o mesmo. A cada página de leitura, atualmente do livro Alma do Mundo de Inácio Ferreira e Carlos Baccelli, nós nos damos toda a liberdade de pensar, questionar, duvidar, perguntar… O interessante é que de alguma forma, as resposta chegam até nós em alguma situação vindoura. Estamos terminando a leitura deste livro e provavelmente na próxima semana iniciaremos o livro A 5ª Terra escrito pela Domingas.

 

O que mais nos perguntamos neste estudo foi como falar para o espírito que ele já morreu. Uma grande parcela daqueles que são trazidos para atendimento, não conseguem entender, ou admitir que morreram e agora vivem na condição de espíritos. É muito fácil deduzir porque isto acontece. Vamos pensar no dia de hoje. A população atual da Terra é de  7 bilhões e 600 milhões . Destes, não chega a 23% que poderia acreditar na continuidade da vida após a morte, nos moldes que nós, espíritas, acreditamos. Analisemos com atenção estes números: Hinduísmo  1 bilhão 15%; Budismo 450 milhões  7%; Outras religiões 58 milhões 0,8%; Espiritismo, aproximadamente 13 milhões de adeptos. O cristianismo continua sendo a doutrina com mais adeptos no mundo todo. Porém, seus seguidores têm mudado de perfil. Há um século, dois terços dos cristãos viviam na Europa. Hoje, os europeus representam apenas um quarto dos cristãos. Onde o cristianismo mais cresceu no último século foi na África. A população cristã da região saltou para 516 milhões de adeptos. 1,1 bilhão de pessoas (16,3% da população mundial) não possuem qualquer filiação religiosa.

 

A maioria absoluta, acredita piamente que morreu, acabou. Alguns ainda dão a chance de em algum momento ir para o Céu ou para o Inferno em definitivo. No Céu tudo é lindo, o tempo todo. No Inferno, só existe o sofrimento, o horrível, o tempo todo.

 

A pessoa morre. Não se vê nas maravilhas do Céu. Alguns interpretam que estão a caminho do Inferno. Outros se descobrem em grande sofrimento, portanto, definitivamente estão condenados. A maioria não está nem no Céu, nem no Inferno, portanto, não morreram, continuam vivos, muito embora não estejam entendendo direito o que está acontecendo. O resultado desta ignorância sobre o próprio destino é a dor. Angústia, medo, desespero, confusão mental, cristalização mental, revolta, ansiedade, agressividade, subserviência, subjugação, isolamento, decepção, revolta e muito mais.

 

Este espírito, nestas condições é trazido para um socorro espiritual. O que é mais urgente neste socorro?

 

Para os espíritas ortodoxos, um bom discurso, com voz aveludada, explicando que o desesperado desencarnou. Bem devagar, sem chocar o sujeito. Quando ele pergunta o que é isto, dizendo que não está entendendo nada, o bom espírita, dará uma aula da continuidade do espírito, que nada acaba, que tudo continua. Provavelmente o atendido continuará não entendo muita coisa, mas o dialogador ortodoxo estará muito satisfeito… mesmo que tenha levado meia hora no seu discurso.

 

Estamos dizendo isto, porque é assim que acontece em muitos trabalhos de socorro espiritual. Guarda-se o chavão, o princípio doutrinário de que não se deve falar para o espírito que ele morreu. Seria falta de amor e caridade para com o sofredor. Gasta-se a oportunidade rara, raríssima de poder atender uma pessoa que está sofrendo muito mais por sua própria ignorância sobre si mesma, perdendo tempo em doutrinação, deixando o esclarecimento para a parte final do diálogo. Tem gente que vai ler e ficar bravo com estas palavras.

 

Dialogo entre mortos e vivos, desencarnados e encarnados é tão difícil quanto ganhar na loteria. Tanto de um lado como do outro. Hoje em dia, trabalhos de desobsessão tornaram-se raros. Espíritos em sofrimento, existem à granel. Pelas informações do plano espiritual, pelo menos uns 15 bilhões de espíritos estão perdidos por aí. Sabemos que em um atendimento, geralmente, falamos para muitos, no momento que estamos dialogando com um. O atendimento tem que ser de baciada. E não adianta ficar horrorizado com esta realidade. É só visitar um hospital de encarnados, pode ser aqui perto, Rio de Janeiro, Bahia, Piauí, e veremos que os encarnados também são atendidos de baciada. Ficam pedindo a Deus para receber um soro com dipirona, para aliviar suas dores atrozes. Isto quando o hospital ainda tem soro e dipirona no estoque, e seringa!

 

Desobsessão é lidar com a urgência da dor, do desespero, da revolta, da falta de esperança, do desnorteamento mental. Isto quando não está acrescido de ódio e desejo de vingança. É por isto que nossos amigos mentores espirituais do trabalho do Ciscos, nos alertam o tempo todo, da necessidade de estudar muito, se preparar muito, para poder ajudar sempre com o máximo de eficiência a todos os que são trazidos para o atendimento.

 

Quem tem discernimento sabe que muitos espíritos chegam precisando se sentir apoiados, recebidos com carinho, norteados para algum lugar, esclarecidos sobre o que está acontecendo, encontrar seus parentes ou amigos desencarnados. Muitos precisam urgentemente de um banho, roupa nova e comida. Depois vão ter tempo para pensar. Outros, à vezes, só precisam de recompor o próprio visual, se reconhecer com um ser existente. O mundo passa por dentro de uma sala de atendimento de socorro espiritual.

 

Tem aqueles outros que se sentem tão culpados, que procuram em nós o julgamento, a condenação e a direção a seguir. Isto mesmo. Estão tão perdidos nos sentimentos de culpa, que precisam de um norte para se acharem, mesmo que este roteiro a seguir seja de punição. A grande descoberta, durante o atendimento é que não existe julgamento numa casa espírita. O que fazemos é ajudar a encontrar o caminho, o abrigo, a paz interior, o auto perdão.

 

Encerramos os estudos, com uma sintonia no trabalho começará logo a seguir. Tudo é contínuo, o intervalo é apenas um descanso para tomar um cafezinho. Nesta concentração pudemos perceber que tinha um grupo de espíritos jovens que vieram nos conhecer. Participaram do estudo e estavam ajudando a preparar a etapa seguinte, dos atendimentos. Estavam entusiasmados, alegres, ajudando aqui, ajudando acolá…

 

Falamos do cafezinho. Nosso salão é um só para tudo. Um quadrado grande, de mais ou menos 10 X 10 metros, com bastante janelas. Com cortinas de tnt cobrimos as janelas e improvisamos um cantinho onde aplicamos passes e atendemos as consultas. Na parede maior do salão temos duas mesas encostadas. Uma colocamos livros, água, lenços de papel. Na outra fazemos nosso cafezinho na cafeteira, alguém sempre traz um bolo, outros trazem biscoito de polvilho, uma caixa de chocolate… Estamos sempre em festa e em confraternização. É uma alegria trabalhar e confraternizar. Quem chega correndo, cansado, tem sempre um cafezinho, um bolinho para acalmar.

 

O Evangelho foi aberto no capítulo 17 Sede Perfeitos, no item 4 Os Bons Espíritas. A troca de ideias que se seguiu foi interessante e surpreendente. “Muitos, porém, dos que creem na realidade das manifestações, não compreendem as suas consequências nem o seu alcance moral, ou, se os compreendem, não os aplicam a si mesmos. Por que acontece isso? Será por uma falta de precisão da doutrina? Não, porque ela não contém alegorias, nem figuras que possam dar lugar a falsas interpretações. A clareza é a sua própria essência, e é isso que lhe dá força, para que atinja, diretamente a inteligência.”

 

Um dos companheiros chamou a atenção para a afirmação “não contém alegorias”. A doutrina não dá espaço para desculpas, exige correção de atitudes e de escolhas. Alguém lembrou o filho pródigo e chamou a atenção para o momento da volta do filho para a casa do pai. Veio a questão, existe diferença para a evolução. Tem gente que evolui em linha reta, errando menos? Daí vem outra questão, quem não erra, também não aprende, tem menos experiências do que aquele que se arrisca.

 

Quanto aos dois irmãos: um sai, erra, experimenta, reflete e encontra o caminho, que para ele, era voltar para o pai. O outro irmão ficou ao lado do pai, fez tudo o que disseram a ele que era o correto, nem foi percebido ou elogiado por sua passividade e obediência. No geral, os espíritas batem palmas para o filho que ficou. Um erro de interpretação, ou o olhar acomodado de quem não quer pensar. O filho pacífico, apático, estava indo muito bem, até que o irmão voltou e foi festejado. Aí ele ficou fera, a revolta tomou conta e foi repreendido pelo pai. Todos nós rimos muito neste instante porque veio a pergunta sobre a continuação desta história: será que o filho pacífico, não resolveu também sair de casa depois que viu que quem era reconhecido era quem se mexia em busca de aprender alguma coisa e sair da comodidade? Ou ele ficou quieto, junto ao pai e ao irmão, cheio de raiva e inveja?

 

Estudar o Evangelho não é somente ler o Evangelho. Pensar ajuda a encontrar novos caminhos para nossos velhos problemas. Chico Xavier estudava o Evangelho Segundo o Espiritismo em todos os momentos que lhe sobrava… dizia que não podia perder tempo…

 

Chegou o momento do atendimento programado do Grupo Inácio Ferreira. Como sempre, a pessoa atendida, nos guia, descrevendo o caminho que faz para chegar até sua casa. Chegando, vai entrando, descrevendo todo o local desde a calçada. Quanto mais detalhes, mais encontramos… Depois de passado por todos os aposentos, portas de armários abertas, cantinhos observados, voltamos para nosso trabalho. Nesta altura, a maioria dos participantes, percebeu, intuiu, viu, o que está acontecendo naquela residência e os seus moradores.

 

Muitos espíritos foram trazidos. A maioria ligados ao atendido, alguns estavam lá sem saber porque, não tem ligação com a casa ou a família. Às vezes nem se lembram como entraram, outras vezes estavam com os moradores anteriores que foram embora, e o espírito ficou por lá mesmo.

 

Alguns casos se destacam mais.

– já disse para me deixar em paz (repete, repete), não quero falar com ninguém, idem, idem, idem, me deixem em paz no meu canto, já falei que daqui não saio…. fica repetindo, repetindo…. Ninguém fala com ela, deixa falar, falar, aos poucos vai aumentando seus pensamentos… não vou deixar ninguém em paz, não saio dali, vou atormentar todo mundo; estou bem assim…

– mas você está muito mal, veja como está sofrendo

– eu sofro, mas eles sofrem também

– acho melhor você ver direito, eles não estão sofrendo como você pensa

– não, eles estão sofrendo igual

– olha direito, eles estão bem…

– eles estão só um pouco melhor

– eles estão mais, mais… bem e você está menos, menos…bem

– é, eles estão um pouco bem

– eles estão muito bem, você insiste em não ver, eles estão bem, estão aqui com você..

– fica pensando alto… eles estão aqui, será que vão falar comigo, será que voltam a falar comigo depois do que eu fiz… eles não vão querer …

– eles estão aqui para te levar

– eles vão me aceitar?… vou poder ficar com eles?

– só que desta vez você não poderá fazer o que fez, fala demais…

– é, eu falo demais… vou ter que aprender a não fazer o que fiz

 

Outra entidade chega segurando a cabeça, reclamando que os pensamentos parecem que está pegando fogo…

– ainda bem que você está aqui, está em um hospital e vai melhorar

– mas não preciso de hospital, são meus pensamentos que estão pegando fogo, eu estou pegando fogo, me jogaram numa fornalha

– não foi agora, já faz muito tempo, você não consegue se desprender, hoje, agora, você não está numa fornalha

– está tudo queimando, meus braços estão queimando

Os médiuns à sua volta, que estão doando energias, estão sentindo um calor imenso…

vamos aliviar, acabar com este fogo, estamos girando bem devagar sobre sua cabeça, energias na cor violeta estão preenchendo sua cabeça, suas glândulas, sinta que está aliviando… vamos colocar a cor índigo no seu frontal, tudo é preenchido com esta cor… agora na sua garganta o azul, o alívio… seu corpo também sente o alívio….

– mas ainda sinto queimando aqui em cima da cabeça, aponta para o local, e meus braços estão saindo labaredas

O dialogador pega um copinho com água, molha os dedos e vai encostando os dedos molhados onde ela reclama…

agora não tem mais fogo, apagou tudo… você está livre… volta para o que é hoje… seus pensamentos estão limpos, tranquilos…

– minha cabeça está leve

 

Outro espírito está lá na sala da casa. É o Caveirinha, como se intitula. Fica escondido dentro de duas malas que estão debaixo de um móvel. Nem sabe explicar muito bem o que faz lá. Dentro da mala está cheio de objetos, tem uma caveirinhas. Tudo foi retirado.

Obs: a garotinha que mora lá, costuma dizer que está brincando com o caveirinha, dá boas risadas com ele…

 

Um espírito vem orientar o atendido. Fala onde tem coisas escondidas debaixo do armário da cozinha e do banheiro. Mostra para ele coisas que estão saindo dos ralos, tanto da cozinha como do banheiro, ensina a manter fechado e fazer a limpeza necessária. Avisa para ter cuidado com o computador. Quando sair, não deixar aberto. Tem gente vigiando o que está escrito lá, para poder atrapalhar.

 

Outro espírito veio conversar com o atendido. Conversaram por um bom tempo e ele ficou muito emocionado, chorando copiosamente. Se sentiu muito bem e protegido. A recomendação é para ele cuidar com mais carinho de si mesmo. Cuida, se desvela pelos outros, mas não toma cuidado quando está em perigo.

 

Um dos médiuns, trabalha com as limpezas mais profundas, da pesada mesmo. Ele fica concentrado, vai para o fundão, limpa, trabalha, vê coisas. Não conversamos com ele durante todo o atendimento, atrapalha. Ele e a equipe dos Exus, nossos amigos Capa Pretas, vão lá e tiram as coisas mais feias. No geral, evita descrever em minúcias o aconteceu… pode mais impressionar do que ajudar.

 

Outros espíritos foram atendidos, e ofereceram menos resistência para compreender a situação. O trabalho terminou com a mensagem de um amigo do plano espiritual que tinha vindo pela primeira vez participar do trabalho e gostou muito.

 

É claro que agradecemos e fizemos o convite para continuar a fazer parte da equipe que tanto nos ajuda!

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