Sobriedade, perseverança, cuidado e fé. É bom acreditar nesta advertência.
Do começo ao fim do trabalho, tudo se encadeou. Assunto do Evangelho, leitura de estudo¹, mensagem dos mentores; todos advertiam para o momento que vivemos hoje, no mundo, nos nossos lares e na Casa Espírita. Para ser mais preciso nesta observação, desde as aulas o início da semana, estávamos sendo chamados a estes ensinamentos.
Começamos dias antes com Paulo aos Efésios (2, 5 e 6): – Todos nós antes éramos por natureza filhos da ira, como os outros também. Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, nos vivificou juntamente com o Cristo, para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela benignidade para conosco em Cristo Jesus. E não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas antes condenai-as. Revesti-vos de toda armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas das trevas. Porque não temos que lutar contra o corpo, mas sim contra os principados, contra as potestades, contra o príncipe das trevas, contras as hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais.
Emmanuel², falando a respeito desta carta de Paulo vai mais longe: – O silencioso e incessante conflito entre os discípulos sinceros e as forças da sombra está vinculado em nossa própria natureza, porquanto nos acumpliciávamos abertamente com o mal, em passado não remoto. E, ainda hoje, entre os fluidos condensados da carne ou nas esferas que lhes são próximas, agimos no serviço de auto restauração em pleno paraíso. A Terra é, igualmente, sublime degrau do Céu. As cidades e as edificações humanas são zonas celestiais. Nem elas e nem as células orgânicas que nos servem, constituem os poderosos inimigos, e, sim, as “hostes espirituais da maldade”, com as quais nos sintonizamos através dos pontos inferiores que conservamos desesperadamente conosco, vastas arregimentações de seres e pensamentos sombrios que obscurecem a visão humana, e que operam com sutileza, de modo a não perderem os ativos companheiros de ontem.
O Evangelho Segundo o Espiritismo, sobre reinos, reis e reinados afirma: – O título de rei nem sempre exige o exercício do poder temporal. Ele é dado, por consenso unânime, aos que, por seu gênio, se colocam em primeiro lugar em alguma atividade, dominando o seu século e influindo sobre o progresso da humanidade. Essa realeza, que nasce do mérito pessoal, consagrada pela posteridade, não tem muitas vezes maior preponderância que a dos reis coroados? Ela é sempre abençoada pelas gerações futuras, enquanto a outra é, às vezes, amaldiçoada. A realeza terrena acaba com a vida, mas a realeza moral continua a imperar, sobretudo, depois da morte. Foi com razão, portanto, que Jesus disse a Pilatos: Eu sou rei, mas o meu reino não é deste mundo.
O amalgama do atendimento da noite estava se formando, intenso, sério, profundo. O interessante é que o grupo dos trabalhadores, é alegre, descontraído, fraterno. Uma seriedade recheada de muito amor. No enredo da continuação da leitura de estudo¹, uma das entidades que atacava o grupo de médiuns dedicados ao socorro de um homem comprometido com o passado, se vangloriava, dizendo que poderia acabar com todos os médiuns do grupo, e que o melhor a fazer seria uma acordo próximo a uma rendição. Dizia ele: – Por séculos dominaremos o mundo… Temos exércitos a nosso favor. Como pode um grupinho sem importância nos deter? Ao que o dirigente do trabalho responde: – Não será o grupinho que o deterá, mas o bloco compacto de luz que vem atrás dele. Somos a pontinha de um grande iceberg que a sua parca visão não detecta. Comanda-nos, o batalhão invencível dos bons espíritos.
Passamos a troca de nossas idéias. Poderíamos entender que o “pecado original”, uma verdadeira sina de condenação dos povos ocidentais do planeta, amenizado em algumas religiões pelo “batismo”, não seriam estas hostes de espíritos voltados para o mal, desde tempos imemoriais, vindos nas levas de exilados condenados ao desterro?
Diante de tanto conhecimento, alertas, provas cabais da presença de espíritos protetores em nossas vidas, pode o médium negociar sua mediunidade? Imaginar que cabe a ele, decidir o quanto deve ou não trabalhar para o bem maior, para a implantação da mensagem do Mestre no planeta Terra? Um pedido foi feito a todos os participantes do grupo. Não importa que um aqui, outro lá, desista ou queira barganhar com o plano espiritual superior; aqueles que continuam, sejam firmes na preservação do grupo.
Como diz Emmanuel vivemos no Céu, em pleno paraíso, façamos jus a este momento de convite à elevação moral e espiritual que estamos tendo.
Começou o atendimento aos espíritos socorridos da noite.
– não adianta se esconder, minha especialidade é descobrir onde estão os lobos vestidos de cordeiro, pode tirar esta roupa branca
– então você é um farejador? Especialista em causar a dor e sofrimento nos outros?
– é meu trabalho… faço o trabalho para que sou pago…
– mesmo que cause dor àquele que fogem em busca da liberdade…
– é meu trabalho… pego todos eles e sou muito bem pago… sou rico
– então porque está em trapos, com esta roupa suja, fedida, em andrajos?
– sou bem pago…
– então teu chefe está te enganando, suas moedas acho que são de estrume de vaca… você está um lixo…se veja no espelho
– este não sou eu… não quero ajuda… não sou eu…
O espírito estava de quatro, em andrajos e não conseguiu se reconhecer no espelho. Foi encaminhado.
Após rápido intervalo, chega o chefe, rindo muito
– seja bem vindo, você está bem?
– continuava rindo muito… Depois de um tempo…
– vocês não me conhecem, não sabem quem eu sou, comando todos vocês…
– talvez não seja bem assim
– comando meus homens de longe… do meu trono… não preciso colocar a mão em nada… eles fazem o que eu mando…
– é porque você não tem mão?
– sou poderoso, não preciso ir até vocês, mantenho os olhos vigiando vocês, faço o que eu quero…
– é a primeira vez que você vem até aqui?
– estou no meu trono…. veja meu trono…
– seu trono está aqui?
– meu trono está lá… sou poderoso… veja meu trono…
Repentinamente começa a chorar copiosamente. A dialogadora não poderia definir se era verdadeiro ou falso. Optou para chamar a ajuda do dirigente para que convocasse o índio Ubirajara, responsável pela segurança da Casa. A entidade foi encaminhada.
Chegou com ar de chacota e de desdém.
– você acreditam que tem liberdade… vocês não têm nada disso…
– e você se acha com liberdade?
– eu sim, sou livre, só faço o que eu quero…
– você e seus amigos são todos livres, só fazem o que querem…
– isto mesmo…
– desde que obedeçam, senão a chibata como solta…
– é… mas somos livres…
– livres para obedecer e não apanhar…
– é, mas é assim que eu vivo…
– você já viu onde você está?… prestou atenção neste lugar?
– mas aqui tem que obedecer…
– aqui temos escolha e disciplina… não existe liberdade sem ordem… fique um pouco aqui e veja como é…
– porque as pessoas estão de branco, é ano novo?
– para você é ano novo, um novo recomeço…
– parece ano novo… todos ao meu redor…
– então preste bem atenção nos rostos… é sua chance de recomeçar…
Outra comunicação era de um espírito que tinha afinidade com um dos participantes do grupo. Deixou um recado para ele.
– Fala para ele que sempre nos encontramos à noite. Conversamos muito, quando ele acorda não lembra. Ele tem muita intuição, mas não acredita. Precisa acreditar mais e assim no seu trabalho ajudar mais as pessoas.
Estava um pouco confuso. Tentava organizar suas idéias. Estava meio apalermado.
– você está vendo onde está agora?
– tem luz…
– onde você estava?
– no cantinho do castigo… quando a gente é criança a mãe coloca a gente de castigo lá no cantinho…
– a culpa te deixou lá… como você chegou aqui?
– foram três que me tiraram… chegaram, levantei os braços e eles me puxaram…
– você não estava sozinho, tinham mais gente que sentia culpa igual você…
– o chão era lama… quanto mais sentia culpa, mais afundava na lama… estava enterrado até os joelhos…
– cada um apoiava o outro com os pensamentos de culpa… e todos iam afundando, não era assim?
– era… tinha chicote também…
– até que um dia você cansou e resolveu pensar diferente…
– foi sim…. pedi perdão…. para minha irmã…
– e aí os três apareceram… tiraram outros também, não foi?
– mas não foram todos…
– ficaram com medo do chicote e não arriscaram sair…
– é cada um tem seu pensamento… suas idéias…
– olhe para seus pés… veja também como está vestido…
– está tudo limpo!… tem muita gente aqui… estão de branco… são médicos?
– médicos, enfermeiros e outras pessoas que ajudam….
– e aqueles três, estão aqui?…. preciso agradecer a eles…
– não ficam aqui, já saíram para ir buscar mais gente, o trabalho deles é este… agradeça a Jesus, que cuida deles
– aqui tem luz…
– olhe bem as pessoas, veja um sorriso especial, perceba…
– é minha irmã… me perdoou… veio me buscar…
– ela sempre esteve ao seu lado, mas só a gora você conseguiu vê-la, vá com ela…
Outros atendimentos aconteceram. Não foi possível reproduzi-los todos.
A mentora veio agradecer no final. Com doces palavras explicou que todos nós lutamos para nos modificar. Buscamos o bem, mas o que vai dar a força necessária para esta conquista é o Amor. O Amor é que recheia nossas vidas.
Terminado o trabalho… silêncio… não dava vontade de falar. O dirigente pergunta: – será que somos ingênuos… inocentes … ? Nos despedimos com alegria.
¹ livro Drama de Um Desconhecido – Luiz Gonzaga Pinheiro
² livro Pão Nosso cap. 160 – Emmanuel e Chico Xavier