Entendendo um processo de desencarnação

O desencarne de Dimas. Morre o corpo físico, organiza o corpo perispiritual

Do livro OBREIROS DA VIDA ETERNA de André Luiz e Chico Xavier capítulos 13 e 15

 

Dimas foi um homem pobre, iletrado, espírita, bondoso, socorria a todos que pediam ajuda, dedicado ao trabalho espiritual. Vida dura, pouca e inadequada alimentação, lidando com o sofrimento e vibrações desequilibradas no socorro alheio.

 

“A esposa do médium, ao pé dele… emitindo forças de retenção amorosa que prendiam o moribundo em vasto emaranhado de fios cinzentos, dando-nos a impressão de peixe encarcerado em rede caprichosa.

Jerônimo apontou­-a, bondoso, e explicou: —  Nossa pobre amiga é o primeiro empecilho a remover. …. As correntes de força, exteriorizadas por ela, infundem vida aparente aos centros de energia vital, já em adiantado processo de desintegração.

 

Em breves minutos, o compartimento ficou  solitário, facilitando-­nos o  serviço. O Assistente distribuiu trabalho a todos nós. Hipólito e Luciana, depois de tecerem uma rede fluídica de defesa, em torno do  leito, para que as vibrações mentais inferiores fossem absorvidas, permaneceram em prece ao lado, enquanto eu mantinha a destra sobre o plexo solar  do agonizante.

 

Em virtude do reforço valioso no setor da colaboração, Hipólito e Luciana, atendendo ao nosso dirigente, foram velar pelo sono da esposa, para que as suas emissões mentais não nos alterassem o esforço.

 

Ordenou Jerônimo que me conservasse vigilante, de mãos coladas à fronte do enfermo, passando, logo após, ao serviço complexo e silencioso  de magnetização. Em primeiro lugar, insensibilizou  inteiramente o vago, para facilitar o  desligamento nas vísceras. A seguir, utilizando passes longitudinais, isolou  todo o sistema nervoso  simpático, neutralizando, mais tarde, as fibras inibidoras no cérebro

 

 

—  Segundo você sabe, há três regiões orgânicas fundamentais que demandam extremo cuidado nos serviços de liberação da alma: o centro vegetativo, ligado ao ventre, como sede das manifestações fisiológicas; o centro emocional, zona dos sentimentos e desejos, sediado no tórax, e o centro mental, mais importante por excelência, situado no cérebro.

 

Aconselhando-­me cautela na ministração de energias magnéticas à mente do  moribundo, começou  a operar sobre o plexo  solar, desatando laços que localizavam forças físicas. Com espanto, notei que certa porção de substância leitosa extravasava do  umbigo, pairando em torno. Esticaram­-se os membros inferiores, com sintomas de esfriamento.

 

Mas, antes que os familiares entrassem em cena, Jerônimo, com passes concentrados sobre o tórax, relaxou  os elos que mantinham a coesão celular no centro emotivo, operando sobre determinado ponto do  coração, que passou a funcionar como bomba mecânica, desreguladamente. Nova cota de substância desprendia-­se do corpo, acima do umbigo  até garganta, mas reparei que todos os músculos trabalhavam fortemente contra a partida da alma, opondo-­se à libertação das forças motrizes, em esforço desesperado, ocasionando angustiosa aflição ao paciente. O campo físico oferecia resistência, insistindo pela retenção do senhor espiritual.

 

Alcançáramos o coma, em boas condições.

 

O Assistente Jeronimo estabeleceu reduzido tempo de descanso, mas voltou a intervir  no  cérebro. Era a última etapa. Concentrando todo o seu  potencial de energia na fossa romboidal, Jerônimo quebrou  alguma coisa que não pude perceber com minúcias, e brilhante chama violeta ­dourada desligou-­se da região craniana, absorvendo, instantaneamente, a vasta porção de substância leitosa já exteriorizada.

 

Notei que as forças em exame eram dotadas de movimento  plasticizante

 

A chama mencionada transformou-­se em maravilhosa cabeça, em tudo  idêntica à do nosso amigo em desencarnação, constituindo-­se, após ela, todo o corpo  perispiritual de Dimas, membro a membro, traço a traço.

 

 

E, à medida que o novo  organismo ressurgia ao nosso  olhar, a luz violeta ­dourada, fulgurante no cérebro, empalidecia gradualmente, até desaparecer, de todo, como se representasse o  conjunto dos princípios superiores da personalidade, momentaneamente recolhidos a um único ponto, espraiando-se, em seguida, através de todos os escaninhos do  organismo perispirítico, assegurando, desse modo, a coesão dos diferentes átomos, das novas dimensões vibratórias.

 

Dimas-desencarnado  elevou­-se alguns palmos acima de Dimas­-cadáver, apenas ligado ao corpo através de leve cordão prateado, semelhante a sutil elástico, entre o cérebro de matéria densa abandonado, e o cérebro de matéria rarefeita do  organismo liberto.

 

 

Para os nossos amigos encarnados, Dimas morrera, inteiramente. Para nós outros, porém, a operação era ainda incompleta. O Assistente deliberou que o cordão  fluídico deveria permanecer até ao dia imediato, considerando as necessidades do  “morto”, ainda imperfeitamente preparado para desenlace mais rápido.

 

Por  enquanto, repousará ele na contemplação do passado, que se lhe descortina em visão  panorâmica no campo interior…. somente poderá partir, em nossa companhia, findo o enterramento dos envoltórios pesados, aos quais se une ainda pelos últimos resíduos.

 

 

— Convém montar guarda aqui, vigilante, para que os amigos apaixonados e os inimigos gratuitos não lhe perturbem o repouso forçado de algumas horas….

 

Duas horas antes de organizar­-se o cortejo fúnebre, estávamos a postos.

 

Tive a nítida impressão de que através do cordão  fluídico, de cérebro morto a cérebro vivo, o desencarnado absorvia os princípios vitais restantes do campo fisiológico.

 

Jerônimo… em seguida, cortou o liame final, verificando-­se que Dimas-desencarnado, fazia agora o  esforço do convalescente ao despertar, estremunhado, findo longo sono.

 

Somente então notei que, se o organismo perispirítico recebia as últimas forças do corpo inanimado, este, por sua vez, absorvia também algo de energia do  outro, que o mantinha sem notáveis alterações. O apêndice prateado era verdadeira artéria fluídica, sustentando o fluxo e o refluxo dos princípios vitais em readaptação. Retirada a derradeira via de intercâmbio, o cadáver mostrou  sinais, quase de imediato, de avançada decomposição.

 

Em compensação, Dimas-­livre, Dimas-­espírito, despertava….”

 

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