A ENERGIA TRANSFORMADORA DAS FLORES

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grupo de EXPANSÃO DA MEDIUNIDADE Maria de Nazaré

terça-feira, 2 de maio de 2023, às 19:30 horas

A ENERGIA TRANSFORMADORA DAS FLORES

“O desânimo é uma falta; Deus vos nega consolações, se não tiverdes coragem. A prece é um sustentáculo da alma, mas não é suficiente por si só: é necessário que se apoie numa fé ardente na bondade de Deus. O fardo é proporcional às forças, como a recompensa será proporcional à resignação e à coragem. Mas essa recompensa deve ser merecida, e é por isso que a vida está cheia de tribulações”. ESE capítulo 5 item 18

*

O trabalho desta noite foi no jardim do CISCOS, entre flores, perfumes e cores.

O que primeiro fazemos na nossa preparação para o trabalho, é nos dissolver nas energias, ser mais espírito do que matéria. Ter essa consciência, buscar essa leveza, se sentir diáfano, participando, integrando todo o ambiente do CISCOS.

Entramos em contato com os trabalhadores, os dirigentes, as equipes de trabalho de Maria de Nazaré e estamos aprendendo a nos aproximar de todos os que serão socorridos. É uma aproximação de amor, sabemos que não podemos estar muito perto, mas vamos treinando focar nossas energias de forma mais objetiva no trabalho de socorro que será realizado.

Por fim vamos entendendo que o Mestre Jesus está dentro de nós, que ele nos leva a sentir o Pai, o Universo Perfeito vibrando dentro de nós. “Eu e o Pai somos Um e o Reino de Deus está dentro de vós”.

*

Estudamos o capítulo 13 do livro Libertação.

Esse capítulo pode ser dividido em dois episódios , dois momentos vibratórios. No início Gúbio explica que o juiz só não sucumbiu porque tem proteção espiritual, muito embora não saiba utilizá-la. No segundo momento Gúbio e sua equipe são a proteção espiritual ativa e entendida pelos personagens do drama.

Vimos que a residência está repleta de espíritos que querem desforra, vingança ou reajuste do juiz. É um ambiente carregado, escuro, denso e que causa mal estar. As pessoas que vivem dentro deste ambiente estão adoentadas, indispostas, angustiadas.

Depois que Gubio interfere diretamente no drama, surge uma possibilidade de equilíbrio, paz, amor entre as pessoas.

No primeiro momento o rapaz Alencar filho do juiz está tentando seduzir Lia, moça que trabalha na casa. Se ele conseguisse naquelas condições vibratórias negativas que imperavam no ambiente, provavelmente a moça ficaria grávida de qualquer um  daquela quantidade de espíritos que lá estavam vinculados à família. O mais esperto, o mais valente, o mais brigão, provavelmente venceria na disputa da vaga para reencarnação.

Depois da intervenção divina através de Gúbio, a união de Alencar e Lia passa a ser abençoada. Programada provavelmente já estava desde o inicio, pois ficamos sabendo que aquele grupo imenso de espíritos vinham juntos de datas anteriores.

Hoje se fala muito em Constelação Familiar, onde os familiares de hoje podem se reconciliar, aceitar, inserir os esquecidos de ontem. Podemos entender que seria o caso de reencarnação, onde o mesmo personagem retorna para se reequilibrar com o grupo familiar. É uma boa possiblidade, sem descartar o conceito de campo mórfico.

Se estudarmos mais profundamente este capítulo 13 do livro Libertação, verificamos que histórias onde existem muita dor entre os personagens, envolve também muitos espíritos na mesma dor. Quando um filho é ferido, os pais e os avós também o são, sentem a mesma dor. Quando um pai é punido, os filhos, esposa, pais e avós também o são. Filhos de escravas sem pai, aos milhares, sentem dentro de si que não pertencem ao um grupo afetivo e não querem pertencer ao patrão.

Estamos notando que problemas de gerações, não implicam apenas nas figuras diretas, filho, pais, avos, bisavós, tataravós. Na divisão do tempo para trás é assim, para facilitar a posição de cada um. Na realidade porém, existem muito mais personagens ocupando o lugar de pais, avos, bisavós, tataravós. Ainda mais numa sociedade escravocrata como a do Brasil. A população brasileira não veio da Europa no ano passado. Foi vindo desde 1500.

O europeu vinha para cá, acompanhado espiritualmente de outros espíritos afins europeus. Chegava aqui fazia filhos misturando o povo nativo com os espíritos europeus. Se morria aqui, aqui ficava. Esse movimento contínuo perdura até nossos dias. Mais recentemente, a partir do século 19,  com povos asiáticos e árabes.

Quando trabalhamos com desobsessão, nos moldes das atividades do CISCOS, entendemos que o espírito que dialoga conosco NUNCA ESTÁ SOZINHO. Sempre acompanhado de uma turma, seus pares, seus iguais, seus subordinados, seus dependentes.

Trazendo isso para uma reconciliação através da Constelação Familiar, é fácil de entender que o campo mórfico, engloba todos esses personagens do drama verificado. Acionando um, aciona o campo vibratório de todos.

Nosso trabalho de DESOBSESSÃO trabalha com esses campos mórficos. Um lembra do outro, que atrai outro, que perdoa ou é perdoado por outro, depois ajudado por um amigo comum e por aí vai. Não existe acaso no socorro da DESOBSESSÃO.

Esta mudança de campo vibratório também acontece na história estudada neste livro. O juiz, no passado senhor de escravo. Juiz ontem, juiz hoje, só mudou o rótulo. Como senhor de escravo julgava, escolhia, decidia o destino das pessoas. Como juiz hoje faz a mesma coisa. E o lar dele vai juntando cada vez mais de espíritos revoltados querendo vingança e justiça.

Gúbio fala para ele usar bem o tempo que lhe resta na carne. O que o espera é doloroso e ele ainda pode amenizar o acerto de contas praticando o amor e o bem.

Quando Gúbio sugere para ele colocar a Lia num colégio, dar instrução, prepara-la melhor para a vida, a primeira reação dele é : “ela não é minha filha!”  Sem lembrar da ligação que eles tinham na reencarnação anterior.

O juiz tem a oportunidade de se reconciliar com Jorge, o rapaz condenado injustamente nesta vida. Ao se reconciliar hoje com ele, os dois reconciliam-se no campo mórfico do passado. Só que lá eles estavam ocupando outras posições na vida.

Você já ouviu falar de REGISTROS AKACHICOS que formam uma espécie de “Livro da Vida” etéreo, em que estão registrados todos os acontecimentos da vida humana – *tudo o que já ocorreu, está ocorrendo e virá a ocorrer*.

Gúbio recomendou para o juiz: *melhore seu agora, melhorará seu passado e melhorará seu futuro*

Vamos começar o atendimento!

*

MENSAGEM DE ABERTURA

“ – Olá irmãos! Como vocês sabem e já perceberam,  para cada trabalho que é formado por um conjunto de atendimento, existe uma necessidade. E hoje devido às circunstâncias, embora estejam aqui nesta casa física, nós vamos tirar vocês todos daqui agora, e vamos todos imediatamente para os jardins desta Casa, que será lá que todos farão o trabalho, e serão guiados pelos espíritos da luz, porque lá os médiuns vão receber os irmãos necessitados, é lá que será o diálogo, e outros grupos vão dar a sustentação necessária.

Estamos chegando no jardim. Olhem! Cheio de plantas e flores!

Vamos sentando nos bancos, vamos nos acomodando. Sabe porque tudo isso? Porque hoje nós vamos trabalhar com uma classe de espíritos desgastada energeticamente, nós vamos trabalhar com espíritos desintegrados energeticamente. Alguns tem as suas almas vendidas para o mal  através de magias antigas e o trabalho de hoje é apenas o início de futuros trabalhos voltados para uma grande limpeza no mundo dos vivos.

É claro que continuaremos com os trabalhos feitos lá embaixo, mas nós a partir de agora faremos uma limpeza no mundo dos vivos porque estamos considerando que muitas almas estão saindo lá de baixo para fazer o mal aqui no mundo físico, porque tornou-se muitas vezes fácil puxá-las para cá. Eles estão vindo e atuando sobre os encarnados porque ficou muito fácil. E vocês estão preparados para esse tipo de atendimento.

Vejam que maravilha esse jardim! Sabe porque estão aqui? Porque vocês precisam da energia da natureza para que não sofram nenhum desgaste energético e vamos começar agora. Vejam vocês estão agora no jardim da Casa que vocês trabalham e como vocês veem é muito grande e bonito. Portanto é aqui e agora que vocês vão fazer o trabalho de vocês.”

*

Os espíritos quando se viam no jardim, no meio das flores, de uma energia que não entediam a força, ficavam meio revoltados. Como um dizia: não posso ser derrotados por flores!

Imagine você num imenso jardim. Flores de todas as cores. Perfumes inebriantes, beleza estonteante e MAGNETISMO.

Quase todos os espíritos reclamaram que não encontravam a porta de saída. Diziam: “Em todos os lugares que nos levam, igrejas, lugares de oração, lugares de energia, sempre encontramos a porta para fugir. Aqui não tem porta, não consigo sair!”

*

Com alguns atendimentos não foi trocado um som sequer, uma sílaba pronunciada. Total silencio e energia. Gemiam, se retorciam, blasfemavam, imprecavam contras a flores, reclamavam do perfume, se ofendiam com a beleza… Revoltados com a força das flores. Não podiam perder a batalha para flores!

*

Um espírito chegou revoltado. Ele estava no momento final para uma pessoa morrer no hospital. Era seu momento de vitória e foi retirado de lá. Na hora que ele ia conseguir tudo o que tinha lutado, estava no meio de flores, sentindo a energia e perdendo a batalha. Acabou entendendo que:

– A flor, ela te envolve pelas pétalas que te acariciam, sinta o carinho das pétalas…

– Você tem o aroma que inebria, respire para sentir e se sentir inebriado…

– As cores que as flores emitem, te envolvem, te dominam, da mesma maneira que te dão energia, tiram sua indisposição

– Este chá que você tomou, feito das flores, tiram seu mal estar, suas tristezas e revoltas…

– É o MAGNETISMO que domina todo os ambiente, que atrai a nós todos…

– De onde vem esse jardim!

– Esse jardim é só um cantinho do jardim de Jesus!

– Mas isso não dá para imaginar! É inimaginável!

*

Os atendimentos revelavam uma surpresa atrás da outra!

Teve um grupo imenso que tinham os corpos deformados. Mas primeiro se identificavam pelos pés. Se viam pelos pés de galinha, de porco, de gado…Pés doentes e machucados.

Aos poucos foram percebendo o quanto todos estavam deformados fisicamente. Brincamos com eles que lá era o hospital do vira, vira. Gostaram desta expressão vira, vira. Todos iam virar para a forma humana como queriam eles. – Estamos voltando na nossa forma humana!

*

Outro grupo era de espíritos que morreram em acidentes e ou não percebiam que estavam mortos e se esforçavam para sair da situação ou percebiam a gravidade do acidente e que só poderiam ter morrido, mas não sabiam para onde ir. – Só posso ter morrido, mas vou para onde agora?!

Um desses espíritos disse que era espírita, mas não praticante. Morreu e não sabia para onde ir. Sabia que estava morto, e ficou lá no local do acidente no meio do rio.

Chico Xavier falava que quando ele morresse iria correndo para o centro espírita Casa da Prece.

*

Os atendimentos foram muitos. Chegamos no final do nosso EXERCÍCIO DE EXPANSÃO DA MEDIUNIDADE.

MENSAGEM

“ – Que maravilha! Hoje, diferente, estamos aqui, sentados num banco desse jardim, captando um grande raio de luz que cai sobre nós.

Amigos e amigas estão aqui com as plantas trabalhando os corpos energéticos de vocês, aguçando, abrindo os sentidos de vocês para que possam, agora com mais facilidade, sentir as vibrações energéticas das plantas desse imenso jardim, muito maior do que vocês consigam imaginar.

Graças a essas plantas, não só vocês aqui, como muitas almas, tiveram a oportunidade de se refazerem energeticamente, se reconstruírem energeticamente, reconstruírem uma parte de seus corpos espirituais.

Existem almas maléficas que ainda tem meios de se sustentarem com energias negativas, mas tem umas, sobretudo as que estão no meio dos vivos, que estão completamente deterioradas, desgastadas energeticamente, por isso todos nós estamos nesse jardim maravilhoso, sentindo de uma forma viva a presença do Cristo, porque aqui  muitos irmãos infelizes que estavam agindo no mundo dos vivos foram completamente bloqueados, foram completamente paralisados pelo magnetismo das plantas daqui.

E voltaremos aqui outras vezes, lugar maravilhoso, com as criaturas em numero imenso que estão agindo no mundo dos vivos e serão trazidas para cá,

Trabalho de hoje, maravilhoso, e os trabalhos que estão por vir. Eu sei que é gostoso estar aqui, mas agora vamos levar vocês lá, para o Centro de vocês, realoca-los nos seus corpos, vamos voltar todos para lá. Vamos voltar caminhando…

E aqui, agora aqui nesta Casa física, nós vamos com muita satisfação agradecer a cada um de vocês que deram sua contribuição valiosa com muito amor no coração, Sim a gente vê vocês saindo da casa de vocês, a gente acompanha vocês, ajuda vocês a virem para cá. A gente anima vocês. Muito obrigado irmãos pela disposição de virem aqui nos ajudar.

Saibam de uma coisa. Receberam no trabalho de hoje, muita coisa que nem podem imaginar. Receberam e vão entender nos próximos dias, semanas, a frente, vocês vão se lembrar dos trabalhos , da sensação gostosa que tiveram, daquela visão  bonita.  O efeito de cada trabalho acompanha vocês pelo resto de suas vidas. Continuem dando valor ao que fazem aqui dentro, a participação, ao que fazem aqui, porque estão recebendo cada vez mais.

Uma belo dia, cada um de vocês terá um sonho muito bonito com o trabalho que fazem aqui.

Fiquem todos em paz!”

*

OBSERVAÇÃO: durante o estudo, conversamos sobre lembrar dos nossos sonhos. A maioria não lembra. Surgem apenas flashes para identificar o possível lugar que estivemos. A resposta veio nesta MENSAGEM .

“- Eu queria dizer para vocês que trabalharam bastante aqui nesta noite.. Trabalharam com coisas que nunca imaginariam.

Lidaram com situações, com estados de espíritos, de pessoas, que vocês não aguentariam ver.

Então quando a gente fala que vocês não lembram é justamente porque talvez vocês não queiram realmente ver. Porque o trabalho que é feito aqui, se não estão aos vossos olhos, é para poupar o que vocês não se sentiriam bem em ver, lembrar mesmo, quando vocês estão acordados.

Não é a toa que muitas vezes vocês não lembram de nada. Não lembram de nada porque são poupados, isso também é pedido de vocês, isso também a gente dá por vocês

Não é fácil fazer esse trabalho aqui, com mentores, com guias, seja lá o que for, esse trabalho tem que ter responsabilidade, tem que ter organização, tem que ter controle, dedicação. Tudo é muito bem calculado. Vocês só conseguem ver aquilo que vocês querem, aquilo que vocês avaliam também para ver ou não. Até mesmo quando estão aqui, desdobrados, também não conseguem ver tudo. Algumas coisas são apagadas, por misericórdia de Deus, para quando vocês estiverem prontos para o próximo passo, vão se recordar do que já fizeram trabalharam, como trabalharam, situações vividas. Terão outro nível de consciência naquele momento de descoberta.

Vocês já fazem, mas a questão é lembrar, estarem preparados. Isso não é nenhuma exigência, porque cada um tem o seu livre arbítrio, não tem nada a ver com seu grau de desenvolvimento moral, espiritual, como pessoa, como espírito, como trabalhador. Não. Isso tem a ver com suas aptidões, como escolheu trabalhar bem, como você quer, ver o que quer, ou o que você acha que precisa  ver.

Os mundos têm muitos véus. Cada um tem os seus véus, Cada um tem seu véu diferente do outro, cada um vê ao seu modo e vamos todos seguindo em direção á luz, meus queridos.

Muito boa noite!”

RESUMOS Livro LIBERTAÇÃO CAP 13 André Luiz e Chico Xavier publicado em 1949

NÃO EXISTE ACASO NA DESGRAÇA

Chegando na grande residência em que Margarida descansava, antes de nos instalarmos de novo junto a paciente, Gúbio, assistido agora pelo enorme respeito de Saldanha, dirigiu-lhe a palavra, examinando a oportunidade de conversarmos com o juiz e analisar a situação da filhinha de Jorge, ali morando.

Entramos, respeitosos no quarto do juiz, mas confesso que o sono do magistrado não poderia ser tão calmo quanto desejaria, em virtude do grande número de entidades sofredoras que lhe batiam às portas internas. Algumas rogavam socorro em altos brados. A maioria reclamava justiça.

Pela porta do quarto vimos um rapaz encarnado nos surgir à frente, cauteloso, deslocando-se a caminho do pavimento inferior. Saldanha tocou, de leve, o braço de Gúbio e notificou:

— Este é Alencar, irmão de Margarida e perseguidor de minha neta.

Seguimos o jovem, que nem de longe conseguiria registrar-nos a presença, e observamos que, após descer alguns degraus, se postava à entrada de compartimento modesto, tentando forçá-la.

— Todas as noites — comentou Saldanha, preocupado — procura abusar de nossa pobre menina. Não tem o mínimo respeito a si mesmo. Reparando a resistência de Lia, estende os processos de perseguição, com ameaças diversas, e acredito que, se ainda não atingiu os fins indignos para os quais se orienta, é porque permaneço a postos, agindo na defesa com a brutalidade que me é característica.

Notamos, admirados, o tom de humildade que transparecia das palavras do vigoroso verdugo. Saldanha ressurgia visceralmente transfigurado. A consideração que dispensava a Gúbio dava-nos conhecimento da súbita transformação que nele se operara. Mostrava compreensão e doçura nos gestos reverentes.

Ouvindo-o, nosso orientador, sem qualquer alarde de superioridade, concordou:

— Efetivamente, Saldanha, este rapaz se revela possuído de forças degradantes e precisa colaboração enérgica que o auxilie a buscar higiene mental.

Em seguida, atentamente, Gúbio ministrou-lhe passes magnéticos nos órgãos visuais. Escoados alguns minutos, o jovem Alencar retirou-se, algo cambaleante, para a câmara de dormir, de pálpebras semicerradas, deixando Saldanha esperançoso  que alguma enfermidade inofensiva, por alguns dias, a partir daquela hora, o ajudaria a meditar nos deveres do homem de bem. Saldanha demonstrava indisfarçável contentamento.

Passamos ao apartamento privado do juiz. O magistrado se mantinha de corpo repousado sobre o colchão macio, mostrando, contudo, a mente inquieta, flagelada.

Meditava o pai de Margarida

— “Por que razão se detinha  naquele processo liquidado, a seu ver, desde muito, ferindo o próprio coração? Anos haviam transcorrido sobre o crime obscuro, entretanto, o assunto lhe revivia na cabeça, qual se a memória se impusesse, tirânica e desapiedada, por disco de estranho padecimento moral. Que motivos o levavam a rememorar semelhante peça judiciária com tanta força? Via Jorge, mentalmente, esquecido no abismo da inconsciência e lembrava-lhe as palavras veementes, afirmando inocência. Não conseguia explicar por que fortes razões lhe recolhera a filha, introduzindo-a no próprio lar. Debalde procurava o motivo secreto que o levava a demorar-se no assunto, naquela madrugada de inexplicável insônia.

Enquanto isso, o Instrutor recomendou a Elói e a mim trazer Jorge, fora do veículo carnal, até onde estávamos, enquanto prepararia o juiz no desligamento parcial do corpo através do sono.

A PROTEÇÃO NUNCA FALTA. PRECISAMOS SABER ACEITAR

Fomos buscar Jorge, lá no hospício.

A essa altura, o dono da casa e a neta de Saldanha, provisoriamente libertos do corpo físico, já se encontravam ao lado de Gúbio, que recebeu Jorge com desvelado carinho, e, unindo os três como que identificando-os a uma corrente magnética de forte expressão, emprestou-lhes forças à mente, por intermédio de operações fluídicas, para que o ouvissem acordados, em espírito, tanto quanto possível. Notei, então, que o despertamento não era igual para os três.

Variava de acordo com a posição evolutiva e condições mentais de cada um. O juiz era mais lúcido pela agilidade dos raciocínios; a jovem Lia colocava-se em segundo lugar pelas singulares qualidades de inteligência; situava-se Jorge em posição inferior, em face do esgotamento em que se encontrava.

Vendo-se à frente do antigo réu e da filha, que identificou, de pronto, o juiz perguntou a esmo, absorvido de insofreável espanto:

— Onde estamos? Onde estamos?

Nenhum de nós se atreveu à resposta.

— Apelam, porventura, em favor deste condenado?

— Sim — respondeu nosso Instrutor, sem hesitar. — Não acreditas que esta vítima aparente de inconfessável erro judiciário já tenha esgotado o cálice do martírio oculto?

— O caso dele, porém, permanece liquidado.

— Não, juiz, nenhum de nós chegou ao fim dos processos redentores que nos dizem respeito.

O juiz arregalou os olhos, mostrando certo orgulho ferido e retorquiu, quase sarcástico:

— Mas, eu fui o juiz da causa. Consultei os códigos necessários, antes de emitir a sentença. O crime foi averiguado, os laudos periciais e as testemunhas condenaram o réu. Não posso, em sã consciência, aceitar intromissões, mesmo tardias, sem argumentação ponderosa e cabível.

Gúbio contemplou-o, compadecidamente, e considerou:

— Compreendo-te a negativa. Invocas a tua condição de sacerdote da lei, para esmagares o destino de um trabalhador que já perdeu tudo quanto possuía, a fim de que resgatasse, intensivamente, os erros do passado distante. Referes-te ao título que a convenção humana te conferiu, entretanto, não me pareces fiel aos sublimes fundamentos de tua elevada missão no mundo.

O juiz, em cuja presença identificava Saldanha perigoso inimigo, revelava-se infinitamente confundido. Palidez cadavérica lhe cobria o semblante, sobre o qual grossas lágrimas principiaram a correr.

— Juiz — continuou Gúbio, em voz firme —, não fosse a compaixão divina, amparando-te as ações, as vítimas dos teus erros involuntários não te permitiriam a permanência no cargo. Tua residência mostra-se repleta de sombras. Muitos homens e mulheres, dos que já sentenciaste em mais de vinte anos, nas lides do direito, depois que morreram, não conseguiram seguir adiante, colados que se acham aos efeitos de tuas decisões e estacionaram na tua própria casa, aguardando-te explicações oportunas. Sem hábitos de prece e meditação, grandes surpresas te reserva o transe final do corpo.

Verificando-se pausa mais longa, o magistrado exteriorizou nos olhos indefinível terror, caiu de joelhos e rogou:

— Benfeitor ou vingador, ensina-me o caminho! Que devo fazer a benefício do condenado?

— Facilitarás a revisão do processo e restitui-lo-á à liberdade.

— Ele é, então, inocente? — indagou o interlocutor, exigindo bases sólidas a futuras conclusões.

Ninguém sofre sem necessidade à frente da Justiça Celeste e tão grande harmonia rege o Universo que os nossos próprios males se transubstanciam em bênçãos. Explicaremos tudo.

E, dando-nos a perceber que precisava gravar na mente do juiz quanto se lhe pedia da ação providencial, continuou:

— Não vai cuidar apenas da liberdade do rapaz. Amparar-lhe-ás a filha, hoje trabalhando por favor em tua casa, em estabelecimento condigno, onde possa receber a necessária educação.

— Mas — interveio o jurista —, esta menina não é minha filha.

Liberta o coração, meu amigo! Respira em mais alto clima. Aprende a semear amor no chão em que pisas. Enquanto é tempo, faze de Jorge um amigo e da filha dele uma companheira de luta que te afague, um dia, os cabelos brancos e te ofereça, mais tarde, a luz da prece, quando teu espírito for compelido a transpor o escuro portal do túmulo.

NÃO EXISTE ACASO, ALGOZES E VÍTIMAS SEMPRE SE ENCONTRAM

O juiz, em pranto, interrogou:

— Como agir, porém?

— Amanhã — informou o Instrutor, calmo e persuasivo —te erguerás do leito sem a lembrança integral do nosso entendimento de agora, porque o cérebro de carne é um instrumento delicado, incapaz de suportar a carga de duas vidas, mas ideias novas surgir-te-ão formosas e claras, com respeito ao bem que necessitas praticar. A intuição, contudo, que é o disco milagroso da consciência, funcionará livremente, retransmitindo-te as sugestões desta hora de luz e paz, qual canteiro de bênçãos ofertando-te flores perfumosas e espontâneas. Chegado esse momento, não permitas que a mente calculista te abafe o impulso das boas obras.

O magistrado contemplou todos ali presentes, pensativo, notando-se-lhe o propósito de endereçar ao nosso Instrutor novas interpelações. Dominado, no entanto, pelas emoções do minuto, calou-se, resignado e humilde.

— Gostarias que me expressasse a respeito da culpabilidade do réu. Em verdade, quanto ao delito de que é presentemente acusado, Jorge tem as mãos limpas. Entretanto, a existência humana é como precioso tecido de que os olhos mortais apenas enxergam o lado avesso. Nos sofrimentos de hoje, resgatamos os débitos de ontem. As entidades que choram às tuas portas não choram sem razão e, mais dia menos dia, a toga que envergas temporariamente acertará contas com todos aqueles que, em torno dela, se lastimam. Jorge, liberou certa parte do pretérito doloroso.

Com isto, não desejamos dizer que nossas falhas, muita vez causadas pela ociosidade ou desatinos de agora, gerando resultados ruinosos para nós mesmos e para outros, sejam recursos providenciais ao pagamento do acaso do agora, porque assim consagraríamos a fatalidade por soberana do mundo, quando, em todas as horas, criamos causas e consequências com os nossos atos cotidianos.

Gúbio explica então as ligações do passado, dolorosa experiência para todos os envolvidos…

Trabalha, meu amigo! Aproveita os anos que permanecerá aqui, porque seu filho Alencar e tua pupila serão atraídos à bênção do matrimônio. Age enquanto podes. Todo bem praticado felicitará a ti mesmo, porquanto outro caminho para Deus não existe, fora do entendimento construtivo, da bondade ativa, do perdão redentor.

Abalo salutar, mostrava o semblante do juiz extremamente transformado. Vimo-lo levantar-se, em lágrimas, cambaleante. A força magnética do nosso Instrutor alcançara-lhe as fibras mais íntimas, porquanto os olhos dele pareciam iluminados de súbita determinação.

Abeirou-se de Jorge, estendeu-lhe a destra em sinal de fraternidade, que o filho de Saldanha beijou igualmente em pranto, e, em seguida, acercou-se da jovem, abriu-lhe os braços acolhedores e exclamou comovido:

— Serás minha filha, doravante, para sempre!…

Indescritível contentamento marcou-nos o inesquecível minuto.

Gúbio ajudou-os a retornarem aos seus aposentos onde dormiam, e, quando nos dispúnhamos a reconduzir Jorge ao presídio de cura onde o corpo em repouso o esperava, Saldanha, plenamente modificado por uma alegria misteriosa que lhe modificava as expressões fisionômicas, avançou para o nosso Instrutor e, tentando beijar-lhe as mãos, murmurou:

— Nunca pensei encontrar noite tão gloriosa quanto esta!

Ia desmanchar-se em palavras de reconhecimento, mas Gúbio, com naturalidade, obrigou-o a reajustar-se, acrescentando:

— Saldanha, nenhum júbilo, depois do amor de Deus, é tão grande quanto aquele que recolhemos no amor espontâneo de um amigo. Semelhante alegria, neste momento, é nossa, porque te sentimos a amizade nobre e sincera no coração. E um abraço de carinhosa fraternidade coroou a tocante e inesquecível cena

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