Na tarde de estudo desta quinta-feira, fizemos um pacto para nossos velórios. Queremos que a última prece seja feita pelos nossos companheiros do CISCOS e para isto temos que avisar nossos familiares. Você já pensou em como quer ser velado? O que espera dos seus familiares ao lado do seu caixão? Já pensou se o que vão conversar lhe será benéfico? Como imagina que será seu desligamento? Quem virá busca-lo? Você aceitará o convite para acompanha-lo?
Conversamos sobre o assunto por mais de uma hora, inspirado na leitura do livro A 5ª TERRA de Domingas de Baccelli. O capítulo 10 é dedicado à experiência de desencarnação da Domingas e não poderia ser de outra maneira, nos remeteu à nossa inevitável desencarnação.
“- Confesso a vocês que, logo ao deixar o corpo, para mim, foi como me livrar de uma “entidade” estranha; a minha primeira reação foi quase de indiferença para o que estava deixando na retaguarda… Não fosse pelos pensamentos de meus familiares e amigos, lamentando o ocorrido, sinceramente eu não teria olhado para trás…
– Você não sentia apego, saudades dos seus familiares, dos amigos e das inúmeras tarefas que participava…?
– Sentia sim!… Essa saudade começou a se manifestar em mim quando eu ainda lutava com o tumor que provocou meu desenlace… Mas quando pude me reconhecer fora do corpo que minha enfermidade ia deformando… me reconheci ainda mais viva e confesso ter sido o meu sentimento mesmo de quase indiferença ao que estava deixando para trás, porque, afinal, nada podia se comparar àquele bem estar que começara a experimentar….
– Isso não acontece a todos, mas, no que tange a mim, quando me vi livre do corpo que me prendia, ligada àqueles aparelhos, a insistirem a me manter presa a uma situação que, sinceramente não mais se justificava, a minha sensação foi de alívio!…
– As lágrimas vertidas em nome da saudade se justificam, mas o pranto motivado pela ideia de que o ente querido morto desapareceu para sempre não tem justificativa alguma!
– Somente os espíritos que ainda não entenderam maior compreensão da Vida Infinita é que, igualmente, choram por aqueles dos quais se separaram!
– Para dizer a verdade, eu estava querendo que aquela cerimônia fúnebre, antecedendo o enterro, terminasse logo, mesmo porque não aguentava mais tanto sentimento de pesar ao redor do caixão…
– Quando tentei volitar e as minhas pernas bambearam, então, compreendi que muita coisa ensinada pelo Espiritismo na Terra, em termos práticos, não vale para todos os espíritos…”
Um dos nossos companheiros tem uma verve humorística sem igual. Para cada situação tem uma piada certeira. Segundo ele, a lembrança da piada estala em sua mente e ele não resiste em dize-la. Apesar do assunto ser muito sério, rimos às gargalhadas com as piadas que eram contadas. Quando acabamos o nosso estudo, estávamos alegres, cheios de energia, vibrando e empolgados com o trabalho de socorro espiritual que começaria em breve.
Começamos a preparação do trabalho com a leitura do Evangelho Segundo o Espiritismo capítulo 17 SEDE PERFEITOS, item 10 – O HOMEM NO MUNDO.
“Um sentimento de piedade deve sempre animar o coração daqueles que se reúnem sob o olhar do Senhor, implorando a assistência dos Bons Espíritos. Elevai o vosso espírito para aqueles a quem chamais, a fim de que eles possam, encontrando em vós as disposições favoráveis, para neles produzir os frutos da caridade e da justiça.
Vivei com os homens do vosso tempo, como devem viver os homens; sacrificai-vos às necessidades, e até mesmo às frivolidades de cada dia, mas fazei-o com um sentimento de pureza que as possa santificar.
Fostes chamados ao contato de espíritos de naturezas diversas, de caracteres antagônicos: não melindreis a nenhum daqueles com quem vos encontrardes. Estai sempre alegres e contentes.
A virtude não consiste em repelir os prazeres que a condição humana permite. Ao fazer qualquer coisa, voltai vosso pensamento à fonte suprema; nada façais sem que a lembrança de Deus venta purificar e santificar os vossos atos.
A perfeição, como disse o Cristo, encontra-se inteiramente na prática da caridade sem limites. Somente no contato com os semelhantes, nas lutas mais penosas, ele encontra a ocasião de praticá-la”.
O nosso livro de estudo, na preparação é o VIOLETAS NA JANELA, do espírito Patrícia. Estamos no capítulo que ela explica sobre a alimentação no mundo espiritual. Todos os espíritos após o desencarne sentem fome e necessidades típicas do corpo físico. Na medida que começam a entender e aceitar o mundo espiritual em que se encontram, podem aprender a depender cada vez menos do alimento e captar todas as energia que necessita do Sol, do prana, do ar… Para isto é preciso estudo e pratica.
Estávamos bem preparados para o atendimento espiritual que iria começar. Nosso companheiro atendido, mora em uma pensão masculina onde acontecem atritos diariamente e o ambiente físico e espiritual é pesado. Brigas beirando a violência são diárias… Fora isto sua história pessoal, envolve muita tristeza, e graças a Deus está diluindo revolta e rancor…. Com Jesus a Luz sempre dilui as trevas…
A casa/pensão que ele mora é antiga. Os proprietários moraram lá por 50 anos. Quando a senhora faleceu, o dono da casa mudou para sua terra de origem, Santa Catarina, deixando a casa fechada. Hoje ele tem mais de 80 anos e continua lá. Depois de mais de um ano fechada, se degradando, uma sobrinha assumiu a casa, reformou e criou a pensão. Nos fundos num terreno bem grande, tem um galpão que também ficou alugado até o ano passado. Hoje está em ruínas. A casa foi adaptada para seis quatros e dois banheiros. Na lateral foi construída da cozinha, área de serviço e mais uma suíte. No total são sete inquilinos e mais quem presta serviço.
Alguns destes moradores tem histórias pessoais de muita dor. A bebida e a droga lhes são companhia. Basta se juntarem na cozinha que a cerveja gelada entra em cena e se não tomar cuidado, a briga também.
Como sempre iniciamos este tipo de atendimento e socorro espiritual, o atendido descreve como chegamos até o endereço e lá chegando descreve todas as dependências do lugar. Terminado o tour que fizemos, destacou o travesseiro dele.
– o que tem no travesseiro?
– tem um prego enorme… vamos tirá-lo…
Uma das médiuns sintoniza a cozinha, palco das brigas… o horror estava lá… Muitos espíritos, eram trabalhadores de uma fábrica, provavelmente na época em que os primeiros italianos chegaram para trabalhar em São Paulo. Vestiam uma roupa típica de trabalhador de fábrica. Brigavam sem parar. O espírito que conversava conosco estava horrorizado, traumatizado… Via os corpos, amontoados uns sobre os outros. A briga era para ficar por cima dos corpos. A briga era violenta entre eles… Quanto mais brigavam, mas se feriam, mais se agrediam e competiam… As mentes não conseguem perceber nada diferente…
– onde vocês estão
– na fábrica, trabalhamos na fábrica… eles nos mataram, deram veneno… foi morrendo um por um, estamos amontoados, a briga é quem vai ficar por cima…
– pode ser que vocês morreram em tempos diferentes…
– eles deram veneno… por isto estamos aqui amontados…
– isto vai acabar. Todos estão sendo trazidos para cá e os corpos serão enterrados…
– não pode, estamos grudados neles, não posso largar o meu corpo…
– não estão mais… todos estão aqui, e você também… veja a máquina escavadeira… esta abrindo uma vala enorme, os corpos não vão ficar amontoados, tem espaço e vão ficar um ao lado do outro… Agora vamos cobrir com a terra… vamos colocar grama para ficar bonito bem verde…
– vocês todos serão tratados aqui… agora vão dormir para descansar, estão precisando…
Quando o companheiro atendido se aproximou, sentando na cadeira ao lado, o espírito se afastou, encolheu, rejeitou… Foi no momento que tentávamos apaziguar a briga entre eles, mas o recurso no final foi coloca-los para dormir, para desligar daquele quadro horroroso.
Imediatamente solicitamos para a médium pegar as mãos do nosso companheiro para sintonizar com a entidade que o espírito anterior havia se afastado. Oh! Que maravilha! Chega uma mulher linda, grande, cheia de amor. Conversa com no nosso companheiro atendido, dando forças e dizendo que aquela situação não estava diretamente ligada à ele, mas era a grande oportunidade que ele tem de aprender a servir, perdoar e se reconciliar… Se fosse possível escrever aqui as palavras lindas que falou, seria o mesmo que…
Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvida, que eu leve a fé;
Onde houver erro, que eu leve a verdade;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó mestre, fazei que eu procure mais consolar que ser consolado;
Compreender, que ser compreendido;
Amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe,
É perdoando que se é perdoado,
E é morrendo que se vive
Para a Vida Eterna.
Na cozinha estava outra entidade cozinheira. – A cozinha é minha! Se alguém me atrapalhar dou uma vassourada!
– não precisa brigar. Temos esta outra cozinha, bem melhor, mais bonita para você… veja, ela pode ser sua… e ninguém vai te atrapalhar…
– tá bom…
Outra cozinheira estava frenética. – você está me atrapalhando...
– não queremos atrapalhar você… do que você mais gosta?
– gosto de plantas…
– então venha conhecer nosso jardim…
– que lindo!…
Sentado na mesa, o espírito estava num lugar de jogatina. Cheio de fumaça de cigarro, pessoas jogando avidamente… foi encaminhado.
Na porta da cozinha tinha uma entidade que se escondia dentro dela. Saia e entrava dentro da porta. Estava lá para guardar seus tesouros, os parentes dele que morreram.
– ninguém os homenageou…
– eles não precisam mais de homenagem, estão muito bem e vieram te buscar…
– mas não posso deixar a porta
– você pode ir com ele, pode levar a porta
– vou com eles… que lugar lindo!… a porta pode ficar com você, não preciso mais dela…
Outro senhor andava para lá e para cá. Gostava de ler, mas ninguém lia para ele…
– fico pedindo, mas aqui ninguém quer ler para mim…
– você pode ler na nossa biblioteca
– que linda!
– sinta-se à vontade, pode ler os livros que quiser
– olha, D. Quixote! Que maravilha!
No corredor, que distribui os quartos um espírito desnorteado ia e vinha. Enrolado, parecia uma bola, indo e vindo sem parar.
– não posso parar, tenho que ir e vir, rápido, não consigo pensar…
Não tinha mente para ouvir nem parar, chacolhava o corpo, tremia quando falava. Foi colocado para dormir. Vai precisar de muito tratamento para normalizar sua mente.
Nosso companheiro nos contou no final do trabalho, que um dos moradores da pensão não consegue parar um minuto. Está sempre fazendo alguma coisa, lavando, limpando e quando acaba, se deixar, limpa novamente…
No quarto do atendido estava uma festa de espíritos. Não poderia ser diferente, dado o histórico do lugar somado à sua história pessoal. Debaixo de sua cama tinha uma mulher amarrada e gelada. Estava lá para gelar, provavelmente manter o coração frio e indiferente.
Numa cadeira de rodas, um velhinho. Pelo tipo físico, deve fazer parte da família do proprietário. Estava lá sofrendo pelos seus, sem saber o que estava acontecendo. Provavelmente ali morreu, ali ficou…
Pelo chão, deitados, espalhados, espíritos sem energia, sugados, exaustos, sem forças…
A entidade veio furiosa.
– quem tirou meus escravos?
– escravos!? Você vem falar de escravos aqui?
– sem eles fico sem força, quero de volta
– você deveria dar graça a Deus por eles não virem bater em você com o chicote…
– quero meus escravos…
– alguém está batendo em você, está sendo mal tratado? Então comece a ver que está sendo muito bem cuidado
O espírito começa a se contorcer, gemer, grunhir, está sem energia… Recebe jatos de energia, fazemos um círculo em sua volta e projetamos muita luz. Ele se acalma e é colocado para dormir.
Uma das médiuns está inquieta. Bebe água, fica de olhos abertos, se agita
– o que você está sentindo?
– muita dor nas costas, dói muito…
Começamos a aplicar passes de desprendimento dos miasmas…
– estamos tirando tudo o que está nas suas costas… é muita coisa… as costas está em carne viva…
Chamamos outra médium para vir ajudar. Ela entra em sintonia e vai atraindo a tranqueira que está nas costas da primeira médium. Mais uma médium vem projetar energias.
– vá colocando nas costas de quem colocou, coloca tudo nele, assim ele sente a dor …
– porque vocês estão colocando isto em mim?
– você colocou nela, é seu, vai ficar com você…
– vocês são fracos mesmos, quem mandou está rindo de vocês…olha ele lá, vocês não atingem ele…
– então vai ficar com você, a dor é sua, você obedeceu e agora vai sair perdendo…
– mas eles me deram o presente, olha aqui meu presente ( e faz o gesto de quem está carregando um tacho)
– por este presente que colocaram lá na esquina agora a dor vai ser sua, será que foi um bom negócio?
– está doendo, não estou aguentando… (se retorcendo)
– então devolve para ele, se livre destas coisas e depois vamos cuidar muito bem de você. Vamos te levar para nosso hospital e todas as dores e machucados vão ser tratados…
– pronto! Já devolvi tudo para ele… (encarnado)
A médium fica espantada. – Se voltou para quem enviou coitado!
Para encerrar os trabalhos, um amigo veio e nos disse:
Muito obrigado meus amigos!
Estamos muito felizes de estar com vocês. Felizes de ter ajudado estes seres que estavam à espera desta ajuda.
Graças a Deus mais um trabalho foi realizado nesta Casa. Acalmar, ajudar…
Toda a equipe está muito agradecida pela oportunidade.
Graças a Deus!