Ela é de verdade?

 

Os momentos que estamos vivendo como nação e sociedade, deixa a todos nós apreensivos quanto ao destino espiritual do país em que vivemos. Uma verdadeira ebulição espiritual, moral, social que deixa a todos atônitos e buscando um porto seguro para a própria fé. Foram as palavras de encerramento, amai e vigiai,  que nos levam a estas reflexões iniciando nossos apontamentos do trabalho da noite.

 

Manoel Philomeno de Miranda ¹ discorrendo sobras as atribulações que envolvem a todos atualmente afirma:

“Nestes dias de grande transição planetária ocorrem e sucederão muitos fenômenos aterradores, que são os frutos apodrecidos da conduta social das criaturas terrestres, cada vez mais degradada, chamando a atenção para a mudança que se dará, propiciando harmonia e legítima alegria de viver.

 

Ninguém se omita à cooperação em favor do mundo melhor, porque as leis cumprem-se com ou sem a anuência dos homens e até mesmo apesar da sua negada cooperação.

 

A barca terrestre segue o seu curso no oceano sideral, sofrendo algumas injunções tempestuosas, mas Jesus está no leme, não nos esqueçamos. A batalha final será do amor, apagando as labaredas do ódio naqueles que as vitalizam com a sua ignorância e teimosia.

 

Cada um deve preparar-se para acompanhar a marcha do progresso, integrando a legião dos construtores de novo período da Humanidade”

 

Abrimos os trabalhos com a leitura do Evangelho Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. O compromisso que assumimos nos trabalhos de atendimento ao próximo exige de todos nós atenção redobrada com os nossos sentimentos em relação ao outro. Não condenar, esperar o amadurecimento do outro, não criticar, compreender, ter calma e outras atitudes tão difíceis quanto.

 

            Na leitura de estudo, chegamos ao fim da primeira parte do livro²: a pessoa atendida tinha alcançado a libertação de seus algozes. Agora passaremos a entender o porque insistem em tantos desatinos de vingança. O estudo nos remeteu ao livro citado anteriormente¹, de Divaldo Franco, quando se refere à ajuda de libertação de entidades presas ao mal e a necessidade de limpeza de seus fluidos deletérios que permanecem na Casa Espírita após os atendimentos de socorro. Os trabalhadores encarnados no geral não tem noção exata dos fluidos, miasmas, energias, raios, luz que envolvem um atendimento de socorro espiritual. Descreve-nos ele, um momento após o embate com um líder das trevas que encontrou o caminho da luz:

 

“Com a área em derredor da Casa Espírita quase deserta (os espíritos haviam fugido assustados em desabalada carreira) observamos a densidade da psicosfera doentia e das formas-pensamento incontáveis que pairavam na região em que estiveram por pouco tempo. As suas emanações psíquicas e as exteriorizações emocionais grosseiras deram lugar a uma nuvem sombria na qual permaneciam as exclamações de ódio, os gemidos e as aberrações que os tipificavam.

 

Sob a orientação do nosso mentor, especialistas em higiene ambiental utilizando-se de aparelhos próprios puseram-se a sanear, não somente o ar como o solo empestado das fixações ideoplásticas prejudiciais.

 

O trabalho de preservação do ambiente é de alta relevância para as atividades espirituais que nele se devem operar, como é compreensível. As nossas atividades realizadas sob condições especiais, na área dos fluidos e da energia, para que alcancem o êxito desejado, estão submetidas a muitas condições e circunstâncias, entre as quais a da higiene local. Por esta razão, fazem-se recomendáveis os cuidados para que as reuniões mediúnicas de cura, de passes, de atendimento fraternal e de socorro espiritual, tenham lugar em recintos reservados para esses misteres em razão de serem providenciadas defesas e assepsiadas com freqüência, liberando-as dos miasmas psíquicos dos enfermos de ambos os planos que para ali acorrem em busca de um auxilio”.

 

 

No prólogo da abertura dos atendimentos, o dirigente  alertou a todos para ter cuidado com a higiene das mãos, da mesma forma que estariam atendendo doentes em um hospital. Foi feita uma limpeza espiritual, através de jatos de luz, nas mãos de todos os trabalhadores presentes. Como foi apontado na semana anterior, é de bom alvitre que as instruções dos mentores sejam ampliadas para que o grupo possa ser mais eficiente no trabalho. O mentor na abertura preparou a todos para que não ficassem chocados caso algum dos atendidos utilizasse palavras mais ferinas durante o diálogo. Pediu a todos, com docilidade: relevem palavras duras.

 

A primeira entidade a ser atendida chegou com muita dificuldade de falar.

– não consigo falar… segurava a garganta indicando dor

– tenha tranqüilidade, estamos aqui para ajudar, você está sendo tratado…

– que são estas coisas pretas que estão saindo de minha boca… é muito… vou sujar aqui…

– não se preocupe,  logo tudo ficará limpo…

– desculpe… não posso fazer esta sujeira… sinto vergonha…

– você está aqui para ser ajudado…

– minha cor… vocês estão falando comigo… não pode, sou negro…

– onde você estava?

– estava cheia de correntes, presa…

– agora você está livre, não existem mais corrente, veja onde você está, veja que lugar bonito…

– mas eu posso ficar aqui?

– olhe bem, as árvores, tem bichos… tem cavalo…

– posso subir no cavalo… gosto de cavalos…

– sim você pode andar à cavalo… passear…

– vão deixar eu andar de cavalo!…

 

 

No Livro dos Espíritos, questão 829 indagou Kardec: – Haverá homens que estejam, por natureza, destinados a ser propriedade de outros homens? Os espíritos responderam: – é contrária à lei de Deus toda sujeição absoluta de um homem a outro homem. A escravidão é um abuso da força. Desaparece com o progresso, como gradativamente desaparecerão todos os abusos.

 

Ivone Pereira  no seu monumental Memórias de Um Suicida³, fala do porquê do sofrimento a que foram submetidos os habitantes da África deportados para o Brasil e outras nações na condição de escravos: – “Sabei que entre os escravos que, sob os céus do Cruzeiro Sublime [do Brasil], choraram vergados sob o trabalho excessivo, famintos, rotos, doentes, tristes, saudosos, desesperados frente à opressão, à fadiga, à maldade, nem todos traziam característicos íntimos de inferioridade… nem todos apresentavam caracteres primitivos! Grandes falanges de romanos ilustres, do império dos Césares: de patrícios orgulhosos, de guerreiros altivos, autoridades das hostes de Diocleciano, como de Adriano e Maxêncio, dolorosamente arrependidas das monstruosas arbitrariedades cometidas em nome da Força e do Poder contra pacíficos adeptos do Cordeiro Imaculado, pediram reencarnações na África infeliz e desolada, a fim de testemunharem novos propósitos ao contato com expiações decisivas, fustigando, assim, o desmedido orgulho que a raça poderosa dos romanos adquirira… Suplicaram… novas conquistas! Mas, agora, contra si próprios, no combate ao orgulho daninho que os perdera! Suplicaram disfarce carnal qual armadura redentora, em envoltórios negros, onde impedidas fossem suas possibilidades de  reação…

 

Humberto de Campos4, nos esclarece que nada acontece no Brasil, sem o cuidado de seus protetores maiores. Sobre a escravidão, relata: –  Certo dia, preparava-se, numa das esferas superiores do infinito, o encontro de Ismael com Aquele que será sempre caminho, verdade e vida…..  A colaboração africana deveria, pois, verificar-se sem abalos perniciosos, no capítulo das minhas amorosas determinações. O homem branco da Europa, entretanto, está prejudicado por uma educação espiritual condenável e deficiente. Desejando entregar-se ao prazer fictício dos sentidos, procura eximir-se aos trabalhos pesados da agricultura, alegando o pretexto dos climas considerados impiedosos. Eles terão a liberdade de humilhar os seus irmãos, em face da grande lei do arbítrio independente, embora limitado, instituído por Deus para reger a vida de todas as criaturas, dentro dos sagrados imperativos da responsabilidade individual; mas, os que praticarem o nefando comércio sofrerão, igualmente, o mesmo martírio, nos dias do futuro, quando forem também vendidos e flagelados em identidade de circunstâncias. Na sua sede nociva de gozo, os homens brancos ainda não perceberam que a evolução se processa pela prática do bem e que todo o determinismo de Nosso Pai deve assinalar-se pelo “amai o próximo como a vós mesmos”. Ignoram voluntariamente que o mal gera outros males com um largo cortejo de sofrimentos. Contudo, através dessas linhas tortuosas, impostas pela vontade livre das criaturas humanas, operarei com a minha misericórdia. Colocarei a minha luz sobre essas sombras, amenizando tão dolorosas crueldades. Prossegue com as tuas renúncias em favor do Evangelho e confia na vitória da Providência Divina.

 

Em outro canto da sala, o espírito comunicante mostrava muita lucidez e determinação no que fazia e acreditava.

– meu foco é ser livre, faço o que quero…

– você tem liberdade para escolher, a colheita de tudo o que você planta virá, é obrigatória, não tem como fugir…

– sei de tudo isto, e esta é a minha escolha… quem mandou você aqui?

– se eu falar, você vai tremer na base. Foi nosso Irmão…

– o que posso fazer… faço o que quero

– você aceita ajuda?

O diálogo continuou por um bom tempo. O espírito era bastante lúcido e sagaz. Sabia sofismar em causa própria. Manteve-se na mesma postura e da parte do atendimento, foi oferecido vibrações amorosas para que ele possa pelo menos começar a refletir sobre suas escolhas que prejudicam outros.

 

O outro espírito chegou achando graça. Uma graça bem sem-graça, sem muito entusiasmo

– o que é tão engraçado?

– faço ficarem irritados, me divirto…

– só isto, sua vida é ficar atrás dos outros com este sorriso que não leva a nada?

– que vida? Não tenho mais nada, não sou ninguém, não existo…

– mas um dia você já foi feliz, recorde este momento de felicidade…

– recordar para quê? Foram só três anos de felicidade, depois ela me abandonou, morreu a desgraçada…

– porque fala isto?

– ela se suicidou, não quis ficar comigo, me enganou falou que era feliz, eu dava tudo para ela…

– o que você dava provavelmente não era o que ela queria, ela não era feliz como você pensava…

– como! Quando casei a família dela disse que ela gostava de mim. Dei jóias, tudo o que ela queria e ela foi embora, não me quis mais…

– você perguntou se ela o amava, se ela queria ficar com você?

– é claro que queria, a família dela concordou, eu era um bom partido, eu quis casar com ela e fui pedir para a família dela…

– eu, eu, eu, eu, sua mãe só te ensinou a falar eu?

– é claro, eu era rico, tudo o que eu pedia minha mãe me dava… não é assim?

– você vai ter que aprender a enxergar o outro… só conhece o eu

– para que vou fazer isto?

– é melhor você tratar de aprender… vai reencarnar e desta vez não vai ser rico…

– não quero reencarnar… porque ela não vem falar comigo?

– você tinha escravos…

– é eu mandava…

– eles tinham a força e…

– eles tinha a força para trabalhar e mais nada.

– é assim que você vai reencarnar… fazer muita força para trabalhar e não conseguir juntar nada…

– e as chicotadas!?  Vou levar chicotadas também!?

– a vida se encarrega de fazer a justiça divina… é melhor você pensar muito sobre isto… veja quem está ao seu lado

– esta velha? Ela quer conversar…. não quero falar com ela…

– ouça o que ela tem para te dizer…

– não vou ficar com esta velha… já avisei vou conversar e vou embora…

 

Philomeno de Miranda, diante de situações como esta relatada, ensina que o cultivo de um sentimento destrutivo, ódio, raiva, rancor, desespero, arrogância, por muito tempo, condensa-se de tal forma no íntimo do espírito, que palavra alguma consegue diluir. É preciso uma força ampliada de amor para alterar a consolidação energética.

 

 

O atendido chegou agitado. Tremia, balançava, não falava coisa com coisa.

– onde estou, vejo dois lugares ao mesmo tempo, não estou entendendo nada…

– você já ouviu falar em espírito?

– de filme de terror?

– o que você acha que acontece quando morre?

– não sei, tenho medo.. é igual aqueles que sobem pela parede?

– esqueça a televisão e os filmes de terror, preste atenção em você…

– não estou entendendo nada…

– quando a gente morre sai de nós uma essência chamada espírito…

– não estou entendendo…

– veja, você está conversando comigo através de uma mulher, precisa dela para eu poder entender o que você fala

– apalpa o corpo, verifica que é corpo de mulher – vocês me operaram!? Não sou mulher, sou homem!

– você agora é espírito, tem corpo de espírito… eu e ela ainda temos corpo de carne…

– o meu corpo é aquele que foi no caixão? Daquele jeito não quero ele…

– veja quem está aqui ao lado

– é minha vó… ela já morreu… ela é de verdade?

– ela é de verdade

– ela quer me levar, diz para eu ir com ela…

– isto, vá com ela

– e se ela me raptar?

– esqueça a televisão! Pode ir com ela, é sua avó de verdade

– ela disse que vai fazer bolinho de chuva… vou com ela…

 

Os atendimentos terminaram. O horário estava avançado e o passe foi coletivo. A mentora veio fazer as recomendações finais. Foi quase um amoroso puxão de orelha. – Cuidem mais de suas casas. Falem boas palavras para as pessoas. Muita oração e cuidado para limpar as vibrações da casa. Não esqueçam das palavras amai e vigiai. Cuidado com quem entra na sua casa, veja qual a vibração dela. Tenham palavras boas para seus familiares, cuidem das vibrações.

 

 

 

 

¹ livro Amanhecer de Uma Nova Era – Manoel Philomeno de Miranda e Divaldo Franco

² livro O Drama de Um Desconhecido – Luiz Gonzaga Pinheiro

³ livro Memórias de um Suicida – Camilo Candido Botelho e Ivone Pereira

4 livro Brasil Coração do Mundo Pátria do Evangelho – Humberto de Campos e Chico Xavier

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