Cuidemos muito das mulheres

“ Que o grupo continue com os objetivos elevados, sempre

em  busca  do  aprimoramento  interior”  Bezerra de Meneses

 

Nós, os espíritas, achamos que estamos fazendo muito. Grande engano!

Como já ouvi de alguém, nós estamos é comendo o pão de depois de

amanhã, fazendo o serviço de anteontem…” Inácio Ferreira

 

 

Parafraseando o título de um livro de Joanna de Angelis podemos dizer que tivemos um Dia Glorioso nesta noite. Recebemos a visita de uma querida e antiga médium companheira, que nos deixa sempre com saudades e anseio de seu retorno, e, ficamos realmente felizes com sua presença. Ela está permanentemente acompanhada por uma mentora, sempre aguardada com muito carinho e respeito, que mesmo ausente, se faz presente, por seus alertas, orientações, carraspanças, incentivos, inesquecíveis.

 

A abertura, com a leitura do Evangelho, acabou sendo mais uma descoberta para nossos espíritos. Refletir sobre os ensinamentos de Jesus, é um poço de águas cristalinas, profundo e inesgotável. Deixai vir a Mim as criançinhas, e aqueles que lhe assemelham. Não seja a pedra de tropeço dos que são humildes de coração. O que é ser humilde qual uma criança? Quem está impedindo estes seres, de caminharem em direção ao Mestre?

 

O grupo entende que humildade é se despojar do velho para aceitar o novo. É estar aberto para novas idéias; é quebrar a própria cristalização, que pode vir de séculos com as mesmas idéias e concepções; é jogar os preconceitos fora; aumentar a fé e a esperança no mundo desconhecido que Jesus nos convida. Ter a alegria e despojamento da criança, aceitação dos ensinamentos de forma pura, sem contestação de nossos velhos argumentos. Ter vontade de ter espírito de criança.

 

Jesus sabia estar em confronto com “raças de víboras” que fariam, fizeram e fazem nos séculos posteriores, tudo o que é possível para impedir que seus ensinamentos chegassem aos corações de toda humanidade. Era para todos que se comportam como estes, principalmente nós no nosso passado comprometido, que avisava e recomendava “deixai vir a mim”. Nós não temos alcance do que significam estas palavras do Mestre o  trabalho que somos convidados a participar em nome Dele. Trabalho de desobsessão não é tarefa para covardes ou simuladores da fé.

 

Na preparação ao trabalho, leitura de estudo, despertou atenção a afirmação ¹: Atenção dividida é como reino onde dois senhores o disputam. Um terceiro pode dominá-los. Um alerta mostrando como temos que ficar atentos em todas as situações que  nos ocorrem, principalmente naquelas que nos exige fé. Nosso dirigente destacou a importância de iniciar a preparação com o Evangelho, para nos dar sustentação e confiança, diante do chamamento ao trabalho e os conhecimentos concernentes à desobsessão que a leitura do livro nos desperta.

 

O dirigente começa a nos conduzir para a ação no trabalho. Espiritualmente estamos em um pátio, ao lado do prédio onde trabalharemos. Formamos uma grande roda de mãos dadas. Somos muitos… Outra roda se forma atrás de nós, como sempre os índios estão presentes, dando-nos todas as garantias. Dr. Inácio chega, entra na roda também. Sua comunicação é em pensamento, não fala. Estamos prontos. Entramos no prédio pela porta ao lado, andamos pelos corredores e entramos nas salas onde trabalharemos. Ao trabalho todos!

 

O atendimento à família designada, na verdade começou na noite anterior, em nosso outro trabalho de desobsessão. Como foi deveras pitoresco, vamos contá-lo e incluí-lo aos nossos relatos desta noite: O espírito depois de compreender que estava prejudicando as pessoas do local onde ficava, se mostrou triste por ter que deixá-lo.

– mas eu gosto de ficar lá, não quero sair… não sei para onde ir…

– lá você não pode ficar, está prejudicando as pessoas que vivem naquela casa…

– mas aqui é um hospital, não quero ficar morando em um hospital!

– é porque você só olhou para o lado direito. Vire a cabeça e olhe para o lado esquerdo. Veja que paisagem, que lugar lindo!….

– é uma fazenda… aqui vou gostar…. mas vou fazer o que?

– o que você sabe fazer?

– gosto de trabalhar com madeira

– então está chegando o responsável pelos trabalhos em madeira, está trazendo algo para você… o que você gosta de fazer com madeira?…

– gosto de fazer pilão….   ele está me dando um pilão de presente… diz que poderei trabalhar e fazer pilão….

– você sabe fazer paçoca?

– é claro que sei fazer paçoca… de amendoim, de carne seca….

– quando você fizer paçoca, não se esqueça de mim, traga um pouco para a gente…

– não vou esquecer não, vou guardar a sua parte, mas você é que tem que vir para cá para comer… 

Risos de todos que estavam próximos do diálogo.

 

Nosso primeiro atendido. Chegou para o diálogo cheio de ódio. Queria sentir o ódio, queria vingança. Seu corpo estava torto, ao mesmo tempo arqueado como carregando um fardo.

– para que tanto ódio?

– quero sentir esse ódio… bom era quando a gente podia matar… o caboclo morria e pronto…

– só que o danado não morria de verdade e o espírito subia nas suas costas e você passava a carregá-lo o resto da vida. Tem um monte nas suas costas que você não está vendo…

– só quero sentir ódio… me sinto tonto, com a cabeça rodopiando, que é que vocês me deram… desde que cheguei aqui…

– você está todo torto, doente, feio… já foi tão bonito… 

– não quero conversar, sinto muita raiva…

Enquanto conversávamos, ele estava sendo envolvido em doces vibrações magnéticas.

– você está se sentindo melhor…

– o que você está fazendo comigo? … não quero me sentir melhor… quero continuar sendo feio e sentir ódio…

– está sentindo o perfume?

– parece dama da noite

– tinha dama da noite na sua casa?

– tinha lá no quintal, perto da janela

– o que ela está fazendo aqui, não quero falar com ela, não vou perdoá-la, mande ela embora…

– ela é quem está ajudando você, está cuidando de você… para não piorar, você está correndo risco…

– não preciso dela, não vou falar com ela, não quero confiar nunca mais

– é sinal que você gosta da sinceridade, que é uma pessoa sincera, verdadeira

– ela me traiu…

– e você não lembra de ter traído alguém, também?

– mas eu sou homem, posso fazer estas coisas…

– você pode, outras pessoas não podem….

Ele não conseguia pensar muito sobre o assunto; estava realmente muito entorpecido e foi colocado para dormir.

 

Dois casos atendidos foram com espíritos tão assustados e machucados emocionalmente, que se apresentaram como crianças. Na medida que iam sendo amparados, e esclarecidos, assumiam uma idade mental mais madura. Um deles apesar de entender tudo com clareza, no momento em que se sentiu realmente amparado e protegido, correu em busca desse carinho como uma criança. É interessante lembrar a uma das pessoas atendidas,  trabalha profissionalmente com crianças problemáticas, assustadas, abandonadas, revoltadas.

 

Outro atendimento deu trabalho. Um interessante diálogo foi iniciado. Estava muito confuso, porque o espírito não se reconhecia com clareza. Se dizia homem, velho, no final pareceu ser mulher, mas este era o menor dos mistérios a ser desvendado. Era seu mestre que estava lá e dizia que o outro mestre que ele havia seguido, ensinou tudo errado e era preciso que ele transmutasse. Suas lembranças quase estavam apagadas. Seu mental praticamente anulado. Aos poucos fomos pontuando a situação: onde estava, onde esteve, de onde veio, o que fazia. Até chegar à memória a palavra magia. Esse era o ponto central que o atormentava: o segundo mestre falava que ele tinha feito magia errada, orientado pelo seu mestre. Era preciso transmutar.

Continuamos no exercício à procura dele mesmo… estava no escuro, estava em outro lugar, estava aqui, via um pouco de luz, voltava a ficar escuro… até que compreendeu que era um espírito, que já morreu.

– já morri, mas estou aqui!?…

Isto foi facilitando ele se encontrar, mas o segundo mestre continuava dizendo que tinha que transmutar. Compreendeu que tudo que estava fazendo, a partir do mestre que seguia, era magia ruim. Não sabia o que fazer agora.

o segundo mestre, está me falando que eu só ficarei bem quando transmutar o que fez o primeiro…

Entramos na terceira fase deste atendimento. Outro dialogador vem acrescentar energia e conduzir o espírito para ir até onde fazia suas magias ruins e limpar tudo. Ele estava admirado, deslumbrado e receoso ao mesmo tempo. A luz o deixava surpreso, não acreditava na claridade que via.

magia é a palavra! O mestre está dizendo para mim: magia

Foi até lá… limpou tudo e perguntava para o dialogador, quase que numa inversão de papéis:

– tem certeza que limpou?

– sim, com esta luz, está tudo limpinho…

– até nos cantinhos?

– está tudo limpo

– você foi lá ver, bem nos cantos?

Muito interessante a posição dele. Queria mudar, limpar, não deixar nada errado para trás. Foi então que entendeu o que seu mestre estava falando: precisava fazer a transmutação, se voltar para os ensinamentos antigos que havia aprendido. Foi levado por seu mestre.

 

Uma parente da família veio dar seu recado. Faz parte da família desde o passado, não desta vida. São filhos de seu coração. Contou que quando tem permissão visita os familiares durante a noite, conversa com eles, esclarece sobre a situação do grupo. Quando acordam, dizem para si mesmos: foi apenas um sonho. Descartam e desqualificam tudo o que ouviram.

O grupo tem problemas muito sérios e estão juntos para aprender a perdoarem uns aos outros. Cada um tem a oportunidade de aprender alguma coisa nesta vida. Se não mudarem as coisas não vão se resolver. Apesar de muitos espíritos terem sido tirados da casa, outros ficaram…

 

No encerramento, nosso grande presente. A querida mentora Zefa veio conversar conosco! Que alegria! Lágrimas rolavam em algumas faces. Quanto tempo…

 

Zefa, com sua alegria e humor de sempre, nos exortou a continuar o trabalho, a ter compromisso com o trabalho. Não temos noção do que acontece durante o atendimento. É uma pena que nenhum de nós consiga ainda ver como o trabalho é realizado. Muitos índios, caboclos, eres ², trabalhando com o grupo.  As dificuldades que encontramos no dia a dia, na constância, na Casinha Azul, na vida pessoal, são conseqüências dos conflitos do Planeta. Em todo lugar está assim. Tem que perseverar, os antigos do grupo e os novos que foram agregados, todos agora estão no coração da Zefa.

 

A querida Zefa nos contou admirada, que a Casinha Azul cresceu muito. O Hospital está imenso, não temos noção do tamanho que está, graças ao trabalho realizado na Casa. É por isto que não podemos parar, a Casa tem que continuar a atender quem precisa, encarnados e desencarnados. Nesse ponto Zefa faz seu primeiro pedido para o grupo: que todos cuidem muito da própria saúde, para continuar trabalhando no grupo. Não podemos nos descuidar, tem que ter saúde para continuar encarnado, trabalhando para ajudar os espíritos.

 

Este pedido pode parecer apenas um agrado, mas é muito mais. Ao assumirmos uma responsabilidade aqui, encarnados, estamos ao mesmo tempo, aprendendo, resgatando, reorganizando nosso passado, reconciliando com desafetos às vezes milenares. Quando desencarnarmos, esta oportunidade acaba. Do outro lado, as relações e oportunidades são outras, relativas à vida espiritual. Aqui temos as nossas relações, encarnados/encarnados; encarnados/desencarnados; desencarnados/encarnados à nossa mão e alma, para poderem ser resolvidas de alguma forma, se não por inteiro, mas facilitando um começo. Depois desta Vida que vivemos HOJE, quando será que teremos outra com as mesmas formidáveis oportunidades? Pense muito nisto, antes de continuar jogando fora oportunidade únicas, que jamais tivemos em outras vidas. Tem um ditado, mais do que conhecido e comprovado que diz: dinheiro não aceita desaforo. E a VIDA aceita que joguemos nossas oportunidades fora?

 

O segundo pedido da Zefa, é que cuidemos muito das mulheres. O Planeta só ficará melhor, quando a maioria das mulheres estiverem no comando moral, e do coração. Hoje as mulheres são dominadas pelo preconceito e este precisa acabar. Nós não temos idéia do que significa cuidar das mulheres. Está faltando respeito dos homens com as mulheres.  Chamou atenção até para os homens do grupo, para prestarem mais atenção de como tratam as mulheres. Se a Zefa está alertando, é porque é assunto sério.

 

Contou também da alegria no plano espiritual, dos dirigentes do nosso grupo. O trabalho é grande e estão satisfeitos com nossa dedicação. Ela nos incentivou a continuar e prometeu que assim que a médium puder, vai retornar para conversar conosco e nos dar esta alegria.

 

Que noite abençoada!

 

 

¹ livro O Drama de Um desconhecido – Luiz Gonzaga Pinheiro

² Erê –  é o aflorar da criança que cada um guarda dentro de si, significa “brincar”. Daí a expressão siré que significa “fazer brincadeiras”. A palavra iré em yorubá significa “boa ação ou favor”. Os espíritos que se manifestam na linha das crianças atendem pessoas e auxiliam-nas com seus passes, seus benzimentos e suas magias elementais, tudo isso feito com alegria e simplicidade enquanto brincam, característica  do seu arquétipo. Ele é tão forte que adultos encarnados sisudos se transfiguram e se tornam irreconhecíveis quando incorporam suas “crianças” ou Eres. A presença desses espíritos infantis é tão marcante que mudam o ambiente em pouco tempo, descontraindo todos os que estiverem à volta deles.

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