“ Meus filhos do coração. Eu desejo a paz a todos. Que o amor, esse
sentimento divino, habite seus corações por toda a eternidade.
Deus nos abençoe hoje e sempre” Bezerra de Meneses
“Nós, os espíritas, achamos que estamos fazendo muito. Grande engano!
Como já ouvi de alguém, nós estamos é comendo o pão de depois de
amanhã, fazendo o serviço de anteontem…” Inácio Ferreira
Nosso dirigente pergunta: o que é beneficência? As respostas convergiram para fazer o bem ao terceiro, não a si mesmo. Iniciou-se a leitura do ESE cap 13, A Beneficência. Pudésseis, meus amigos, ter apenas a doce preocupação de fazer aos outros felizes!
Começamos a leitura do livro de estudo. Nos chamou atenção uma situação em que os médiuns estavam sendo dominados mentalmente por uma entidade que cantava vantagem, quando o dirigente do trabalho retruca:
– Não cante a vitória antes da hora. Nosso comandante não nos levaria tão longe para amargar uma derrota. Prepare-se, pois vamos entrar em seu reduto e fazer o que está escrito. Ainda não vi em nenhum lugar a luz ser derrotada pelas trevas. Vamos entrar! A bandeira de Jesus está tremulando! Estamos de pé! Se não sair da frente, passamos por cima!
Esta passagem deu ensejo a comentários pertinentes e foi lembrado que na noite anterior, no trabalho de desobsessão, um espírito veio para anotar o comportamento dos membros do grupo. Estava convicto na sua tarefa de observar todos do grupo e anotar nossas fragilidades. O consenso a respeito desta situação é que a presença daquela entidade foi permitida pelos dirigentes maiores do trabalho. Provavelmente, a cada retorno ao grupo, algo será trabalhado no seu íntimo, até que possamos estabelecer um diálogo aproveitável no futuro.
Recorramos a André Luiz (1945), a nos explicar como é feita a segurança dos trabalhos espirituais.
O primeiro exemplo que nos traz o amigo André Luiz ocorre numa simples casinha pobre de subúrbio¹:
“– Observem como se inclinam para cá, fugindo, em seguida, espantados e inquietos. Estamos colhendo mais um ensinamento sobre os efeitos da prece. Nunca poderemos enumerar todos os benefícios da oração. Toda vez que se ora num lar, prepara-se a melhoria do ambiente doméstico. Cada prece do coração constitui emissão eletromagnética de relativo poder. Por isso mesmo, o culto familiar do Evangelho não é tão só um curso de iluminação interior, mas também processo avançado de defesa exterior, pelas claridades espirituais que acende em torno. O homem que ora traz consigo inalienável couraça. O lar que cultiva a prece transforma-se em fortaleza, compreenderam? As entidades da sombra experimentam choques de vulto, em contato com as vibrações luminosas deste santuário doméstico, e é por isso que se mantêm a distância, procurando outros rumos…
Logo às primeiras horas da madrugada, o movimento intensificou-se. Muita gente ia e vinha.
– Numerosos irmãos – explicou o orientador – encontram-se neste pouso de trabalho espiritual, na esfera a que os encarnados chamariam sonho. Não é fácil transmitir mensagens de teor instrutivo, nessa tarefa, utilizando lugares comuns, contaminados de matéria mental menos digna. Nas oficinas edificantes, porém, onde conseguimos acumular maiores quantidades de forças positivas da espiritualidade superior, é possível prestar grandes benefícios aos que se encontram encarnados no planeta.
….. Nesse instante, dois camaradas que nos haviam dirigido a palavra durante a noite, despertando-nos sincera simpatia, apresentaram-nos saudações.
– Mas, como? – perguntei – retiram-se tão cedo?
– Vamos ao trabalho – respondeu-me um deles –; hoje, à noite, realizar-se-á o estudo evangélico e devemos auxiliar os irmãos ignorantes e sofredores que estejam em condições de vir até aqui.
– Há também semelhante tarefa? – indaguei, espantado.
– Como não, meu caro? O próprio Jesus já dizia, há muitos séculos, que a seara é grande. Há trabalho para todos. E cumpre-nos reconhecer que esta oficina de assistência cristã funciona, há quase vinte anos, de maneira incessante.
– Desculpem-me tantas interrogativas – tornei –, mas estimaria saber se vocês são os únicos com as atribuições de recrutar os que ignoram e sofrem, para a instrução e o consolo.
– Não. Hildegardo e eu somos auxiliares apenas de alguns quarteirões no centro urbano. Nesse ramo de socorro, os colaboradores são numerosos.
Andando pela rua, nos deparamos com uma alvoroço. Um amigo espiritual que me pareceu o chefe, naquela aglomeração, dirigindo-se a nós com deferência e simpatia, explicou rapidamente a ocorrência. O carroceiro havia recebido a patada de um burro e era necessário socorrer o ferido.
Serenada a situação, vi o referido superior hierárquico chamar um guarda do caminho, interpelando:
– Glicério, como permitiu semelhante acontecimento? Este trecho da estrada está sob sua responsabilidade direta.
O subordinado, respeitoso, considerou sensatamente:
– Fiz o possível por salvar este homem, que, aliás, é um pobre pai de família. Meus esforços foram improfícuos, pela imprudência dele….
O Superior, que ouvia atenciosamente as alegações, respondeu sem hesitar:
– Tem razão. E como dirigisse o olhar a Aniceto, desejando aprovação, nosso orientador afirmou:
– Auxiliemos o homem, quanto esteja em nossas mãos, cumpramos nosso dever com o bem, mas não desprezemos as lições. Esse trabalhador imprudente foi punido por si mesmo….
Antes da Reunião com palestra, psicografia e passes que ocorreria naquele lar, nesta noite… Os preparativos espirituais para a reunião eram ativos e complexos.
Chegamos de regresso à residência de Dona Isabel, quando faltavam poucos minutos para as dezoito horas e já o salão estava repleto de trabalhadores espirituais em movimento. Observando, com estranheza, determinadas operações, fiz algumas perguntas ao nosso orientador, que me esclareceu com bondade:
– Realizar uma sessão de trabalhos espirituais eficientes não é coisa tão simples. Quando encontramos companheiros encarnados, entregues ao serviço com devotamento e bom ânimo, isentos de preocupação, de experiências malsãs e inquietações injustificáveis, mobilizamos grandes recursos a favor do êxito necessário.
Claro que não podemos auxiliar atividades infantis, nesse terreno. Quem não deseje cuidar de semelhantes obrigações, com a seriedade devida, poderá esperar fatalmente pelos espíritos menos sérios, porquanto a morte física não significa renovação para quem não procurou renovar-se. Onde se reúnam almas levianas, ai estará igualmente a leviandade.
No caso de Isabel, porém, há que lhe auxiliar o esforço edificante. Em todos os setores evolutivos, é natural que o trabalhador sincero e eficiente receba recursos sempre mais vastos. Onde se encontre a atividade do bem, permanecerá a colaboração espiritual de ordem superior.
Continuei reparando as laboriosas atividades de alguns irmãos que dividiam a sala, de modo singular, utilizando longas faixas fluídicas. Aniceto veio em socorro da minha perplexidade, explicando, atencioso:
– Estes amigos estão promovendo a obra de preservação e vigilância. Serão trazidas aos trabalhos de hoje algumas dezenas de sofredores e torna-se imprescindível limitar-lhes a zona de influenciação neste templo familiar. Para isso, nossos companheiros preparam as necessárias divisões magnéticas.
Observei, admirado, que eles magnetizavam o próprio ar.
–Em nossos serviços, o magnetismo é força preponderante. Somos compelidos a movimentá-lo em grande escala.
–Para atingir determinados efeitos, é indispensável impregnar a atmosfera de elementos espirituais, saturando-a de valores positivos da nossa vontade. Para disseminar as luzes evangélicas aos desencarnados, são precisas providências variadas e complexas, sem o que, tudo redundaria em aumento de perturbações. Este núcleo é pequenino, considerado do ponto de vista material, mas apresenta grande significação para nós outros. É preciso vigiar, não o esqueçamos.
A uma ordem de um dos superiores daquele templo doméstico, espalharam-se os vigilantes, em derredor da moradia singela.
Logo após alguns minutos além das dezoito horas, começaram a chegar os necessitados da esfera invisível ao homem comum. Se fosse concedida à criatura vulgar uma vista de olhos, ainda que ligeira, sobre uma assembléia de espíritos desencarnados, em perturbação e sofrimento, muito se lhes modificariam as atitudes na vida normal. Nessa afirmativa, devemos incluir, igualmente, a maioria dos próprios espiritistas, que freqüentam as reuniões doutrinárias, alheios ao esforço auto-educativo, guardando da espiritualidade uma vaga idéia, na preocupação de atender ao egoísmo habitual. O quadro de retificações individuais, após a morte do corpo, é tão extenso e variado que não encontramos palavras para definir a imensa surpresa. Aqueles rostos esqueléticos causavam compaixão. Chegavam ao recinto aquelas entidades perturbadas, em pequenos magotes, seguidas de orientadores fraternais. Pareciam cadáveres erguidos do leito de morte. Alguns se locomoviam com grande dificuldade. Tínhamos diante dos olhos uma autêntica reunião de “coxos e estropiados”, segundo o símbolo evangélico.
– Aqui, poderemos observar apenas sofredores dessa natureza, porque o santuário familiar de Isidoro e Isabel não está preparado para receber entidades deliberadamente perversas. Cada agrupamento tem seus fins.
– Vamos ao serviço. Para nós, cooperadores espirituais, os trabalhos já começaram. A prece e o esforço dos companheiros encarnados representarão o termo desta reunião de assistência e iluminação em Jesus Cristo.”
Este exemplo ocorre em uma Casa Espírita².
“Marcou–se, mais tarde, à noite de minha visita e esperei os ensinamentos práticos, alimentando indisfarçável interesse.
Surgida à oportunidade, vali–me da prestigiosa influência para ingressar no espaçoso e velho salão, onde Alexandre desempenha atribuições na chefia. Dentre as dezenas de cadeiras, dispostas em filas, somente dezoito permaneciam ocupadas por pessoas terrestres, autênticas. As demais atendiam à massa invisível aos olhos comuns do plano físico. Grande assembléia de almas sofredoras. Público extenso e necessitado.
Reparei que fios luminosos dividiam os assistentes da região espiritual em turmas diferentes. Cada grupo exibia características próprias. Em torno das zonas de acesso, postavam–se corpos da guarda, e compreendi, pelo vozerio do exterior, que, também ali, a entrada dos desencarnados obedecia a controle significativo. As entidades necessitadas, admitidas ao interior, mantinham discrição e silêncio.
Entrei cauteloso, sem despertar atenção na assembléia que ouvia, emocionadamente, a palavra generosa e edificante de operoso instrutor da casa. Grande número de cooperadores velavam, atentos. E, enquanto o devotado mentor falava com o coração nas palavras, os dezoito companheiros encarnados demoravam–se em rigorosa concentração do pensamento, elevado a objetivos altos e puros.
Era belo sentir-lhes a vibração particular. Cada qual emitia raios luminosos, muito diferentes entre si, na intensidade e na cor. Esses raios confundiam–se à distância aproximada de sessenta centímetros dos corpos físicos e estabeleciam uma corrente de força, bastante diversa das energias de esfera. Essa corrente não se limitava ao círculo movimentado. Em certo ponto, despejava elementos vitais, à maneira de fonte miraculosa, com origem nos corações e nos cérebros humanos que aí se reuniam. As energias dos encarnados casavam–se aos fluidos vigorosos dos trabalhadores de nosso plano de ação, congregados em vasto número, formando precioso armazém de benefícios para os infelizes, extremamente apegados ainda às sensações fisiológicas.
Semelhantes forças mentais não são ilusórias, como pode parecer ao raciocínio terrestre, menos esclarecido quanto às reservas infinitas de possibilidades além da matéria mais grosseira.
Detinha–me na observação dos valores novos de meu aprendizado, quando o meu amigo, terminada a dissertação consoladora, me solicitou a presença nos serviços mediúnicos. Demonstrando-se interessado no aproveitamento integral do tempo, foi muito comedido nas saudações:
– Não podemos perder os minutos – informou.
E, designando reduzido grupo de seis entidades próximas, esclareceu:
– Esperam, ali, os amigos autorizados.
– À comunicação? – indaguei.
O instrutor fez um sinal afirmativo e acrescentou:
– Nem todos, porém, conseguem o intuito à mesma hora. Alguns são obrigados a esperar semanas, meses, anos…
– Não supunha tão difícil a tarefa – aduzi, espantado.
– Verá – falou Alexandre, gentil.
E dirigindo-se para um rapaz que se mantinha em profunda concentração, cercado de auxiliares de nosso plano, explicou, atencioso:
– Temos seis comunicantes prováveis, mas, na presente reunião, apenas compareceu um médium em condições de atender.
Desde já, portanto, somos obrigados a considerar que o grupo de aprendizes e obreiros terrestres somente receberá o que se relacione com o interesse coletivo.
Não há possibilidade para qualquer serviço extraordinário”.
O nosso trabalho estava iniciando, mais uma noite de expectativa para o bem. O grupo foi convidado a visualizar um hospital. De linhas mais antigas, bem conservado, tamanho considerável, elegante e imponente; entramos. Á nossa frente um largo e extenso corredor. Nos ofereceram aventais brancos para vestir. No bolso esquerdo do avental estava bordado: beneficência. Caminhamos em frente. Um de nós abriu uma das portas, olhamos com atenção, outras portas fomos abrindo. No fundo do corredor Dr. Inácio nos saudava; sem falar, fazendo sinal com as mãos indicou para abrir a porta número oito. Abrimos, entramos com muita atenção e o dirigente nos exortou: ao trabalho!
Os atendimentos da noite foram calmos. Não havia muita revolta por parte dos atendidos. Uma das entidades socorridas havia desencarnado queimada. Perguntou porque havia mudado de pronto socorro. Não tinha condições de muita lucidez, estava com muita dor.
A envolvemos em um gel por todo o corpo.
– sinta o alívio, esta geléia que te envolve está recompondo seu corpo, sua pele, sinta o alivio
– a dor está diminuindo…
– sinta a maciez sobre sua pele, parece pétala de rosa…
– a dor acabou… minha filha está aqui… disse que faz tempo que está ao meu lado, mas eu não a ouvia. Minha avó, tem mais gente!.. Cadê minha mãe?
– agora ela não pode vir, depois você terá notícias dela…
– eles vão me levar e me tratar…
Novamente vamos recorrer a André Luiz¹:
– Nunca te negues, quanto possível, a auxiliar os que sofrem. Ao pé dos enfermos, não olvides que o melhor remédio é a renovação da esperança; se encontrares os falidos e os derrotados da sorte, fala-lhes do divino ensejo do futuro; se fores procurado, algum dia, pelos espíritos desviados e criminosos, não profiras palavras de maldição. Anima, eleva, educa, desperta, sem ferir os que ainda dormem. Deus opera maravilhas por intermédio do trabalho de boa vontade! Sem mais hesitação, dispus-me ao serviço.
– Ai! ai! – respondeu a interpelada – nada vejo, nada vejo! Ah! o tracoma! Infeliz que sou! E me falam em morte, em vida diferente… Como recuperar a vista?! Quero ver, quero ver!…
– Calma – respondi, encorajado –, não confia no Poder de Jesus? Ele continua curando cegos, iluminando-nos o caminho, guiando-nos os passos!
Somente mais tarde lembrei que, naquele instante, olvidara a curiosidade doentia, não pensei na impressão deixada pelo tracoma naquele organismo espiritual, nem me preocupei com a expressão propriamente científica do fenômeno, vendo, apenas, à minha frente, uma irmã sofredora e necessitada. E, à medida que me dispunha a observar a prática do amor fraternal, uma claridade diferente começou a iluminar e a aquecer-me a fronte.
Lembrando a influência divina de Jesus, iniciei o passe de alivio sobre os olhos da pobre mulher, reparando que enorme placa de sombra lhe pesava na fronte. Pronunciando palavras de animação, às quais ligava a melhor essência de minhas intenções, concentrei minhas possibilidades magnéticas de auxílio nessa zona perturbada. Dentro de alguns instantes, a desencarnada desferiu um grito de espanto.
– Vejo! Vejo! – exclamou, entre o assombro e a alegria – grande Deus! grande Deus!
Ao final do trabalho, reunimos nossas melhores vibrações em direção aos nomes que constam no Caderno de Vibrações, mais uma certeza de que nossas atitudes voltadas ao bem, e amparadas por Jesus, alcançam sempre os rogos dos necessitados. Que Deus abençoe a todos!
¹ livro Os Mensageiros André Luiz e Chico Xavier
² livro Missionários da Luz André Luzi e Chico Xavier