Socorrer significa conhecer o socorrido para poder realmente ajuda-lo. É o que vamos nos surpreender no livro LIBERTAÇÃO de André Luiz, capítulo 10, Em Aprendizado, que estamos estudando.
“…De retorno à casa, com indisfarçável estranheza reparei que o nosso instrutor não empreendia qualquer ataque em defesa da doente querida… Um dos insensíveis magnetizadores presentes, à insinuação de Saldanha, começou a aplicar energias perturbadoras, ao longo dos olhos, torturando as fibras de sustentação. Não somente o cristalino, em ambos os órgãos visuais, denunciava fenômenos alucinatórios, mas também as artérias oculares revelavam-se sob fortes modificações… Percebi a facilidade com que os seres perversos das sombras hipnotizam as suas vítimas, impondo-lhes os tormentos psíquicos que desejam….”
Quantos de nós, trabalhadores do CISCOS, subestimamos as situações espirituais que constatamos em nós mesmos!
Pense bem nesta situação e analise como você está. Quanta informação já recebeu sobre seus problemas espirituais, quanto aproveitou estas ajudas, socorros, orientações. É crente ou descrente em relação a tudo o que vemos nossos trabalhos espirituais. O que você vê, são situações do outro, ou alguma coisa serve para a sua própria vida? Nos atendimentos da quinta feira, feitos para você, você acreditou no que foi revelado?
Perseverar no trabalho espiritual, nas nossas crenças, no embrião de nossa Fé, não é fácil. Não é fácil para ninguém. A questão é o quanto cada um de nós assimila e aproveita pessoalmente o socorro, a ajuda espiritual que recebe. E sua descrença, como vai indo?
“…Grossas lágrimas banhavam o rosto da enferma, traduzindo-lhe as agitações interiores. Dilacerada, a mente aflita e sofredora tiranizava o coração que batia, precipite, imprimindo graves alterações em todo o cosmos orgânico. Das complicadas operações sobre os olhos, o magnetizador passou a interessar-se pelas vias do equilíbrio e pelas células auditivas, carregando-as de substância escura, qual se estivesse doando combustível a um motor. Margarida, ainda que o desejasse, agora não conseguiria erguer-se. Compacta emissão de fluidos tóxicos misturava-se à linfa dos canais semicirculares. Terminada a esquisita intervenção, Saldanha dispensou os terríveis colaboradores, à exceção da dupla que se incumbia do hipnotismo…”
Hoje em dia, diagnosticar as pessoas com depressão, virou lugar comum. As pessoas ficam depauperadas para a vida, e são classificadas como deprimidas. Se a Humanidade conhecesse só um pouquinho sobre a vida espiritual, poderia perceber que as agressões predominam uns sobre os outros, sem trégua. A maioria das situações depressivas, tem um histórico que envolve erros, traições, vinganças, desatinos, oportunidades, tendências para o mal, falta do perdão, orgulho, vaidade, arrogância, tripudio… Nenhum de nós é santo, nosso caráter ainda está se formando, mais erramos do que acertamos, mais ferimos o outro, do que realmente fomos feridos…
Todos os nossos desatinos de hoje, justificamos por situações atuais. Estou sofrendo, portanto posso ser um desatinado. É o hoje explicando o hoje. Ainda é difícil para nós, Humanidade, entender que passado, presente e futuro é o HOJE. O que muda, o que varia, é o corpo estamos morando, o lugar em que estamos vivendo, a sociedade em que estamos imersos. São mudanças externas ao SER que SOMOS. EU SOU!
Qual será o nosso trabalho, nosso objetivo, nossa utilidade no CISCOS? Não estamos reunidos ao acaso. Como dizia Einstein Deus não joga dados com o Universo. Segundo a compreensão de Kardec, após estudar profundamente as informações que os espíritos nos enviaram, temos a possiblidade de escolher, mas o livre-arbítrio sofre limitações por força de uma outra lei: a lei de causa e efeito, segundo a qual cada um de nós recebe da vida o que dá a ela, porque a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória.
“…Pouco a pouco, esvaziou-se a casa, semelhante agora a desprezada colmeia de maribondos vorazes. Contudo, aí permaneciam Saldanha, os dois magnetizadores, nós três e a coleção de mentes, em “formas ovóides”, ligadas ao cérebro da senhora flagelada. A sós com o temível obsessor, Gúbio procurou sondar-lhe o íntimo, discretamente. – Sem dúvida que a sua fidelidade aos compromissos assumidos – declarou o nosso orientador, atencioso – é bastante significativa. E enquanto Saldanha sorria, envaidecidamente, continuou, de olhar penetrante e doce: – Que razões teriam conduzido Gregório a conferir-lhe tão delicada missão? – O ódio, meu amigo, o ódio! – explicou o interpelado decidido. – À senhora? – aduziu Gúbio, indicando a doente. – Não propriamente a ela, mas ao pai, juiz sem alma que me devastou o lar. Faz onze anos, precisamente, que a sentença cruel de um magistrado caiu sobre os meus descendentes, exterminando-os… E, diante da expressão de real interesse que o nosso instrutor deixava perceber, o infeliz continuou:…”
A reunião de agressores e vítima, não se dá ao acaso. O ódio do obsessor tem raízes num parente próximo e querido da vítima. De forma indireta atinge o coração do familiar envolvido. Gregório quer que Margarida desencarne. Ela é jovem, Tem energia vital sobrando. Gregório encontra quem esteja cheio de ódio e sentimento de vingança sobre um parente querido. Treina, prepara, conquista fidelidade deste coração vingativo e o coloca para chefiar todo o trabalho de destruição das forças vitais de sua presa. Todos os que trabalham para Gregório além de Margarida são suas presas. Um é “chefe”, outro “especialista”, outros uma “legião subserviente e subalterna”, a “vítima” e os “familiares da vítima”. Gregório, prisioneiro de sua amargura e desesperança.
“…– Tão logo abandonei o corpo físico, premido por uma tuberculose galopante, revoltado com a pobreza que me lançara à extrema penúria, não pude afastar-me do ambiente doméstico. Minha infortunada Iracema herdou-me um filho querido, a quem não pude legar qualquer recurso apreciável. Jorge e sua genitora passaram, desse modo, a enfrentar dificuldades e aflições que não posso relembrar sem imensa angústia. Operário em rude serviço braçal, meu filho não conseguia sustentar dignamente a casa, definhando-se-lhe a mãezinha em padecimentos continuados e sofridos em silêncio. Ainda assim, Jorge contraiu núpcias, muito cedo, com uma colega de trabalho, que, a seu turno, lhe deu uma filhinha atormentada e sofredora. A vida corria desesperadamente para o lar subalimentado e desprotegido, quando certo crime, constituído de roubo e assassínio, sobreveio na organização em que meu desventurado rapaz trabalhava, e toda a culpa, em face de circunstâncias inextricáveis, recaiu sobre ele….”
Desgraça pouca é bobagem; urubu quando está com azar, o debaixo, suja o de cima. É uma história que reúne criaturas no fio da navalha. Saldanha sempre um pobre coitado que vive na miséria, forma uma família na desgraça e morre de tuberculose, doença comum até poucas décadas atrás. Morre e não se afasta da casa e dos familiares.
Com sua esposa Iracema teve um filho, chamado Jorge, operário de serviço braçal, que mal conseguia sobreviver.
Jorge casa e nasce uma filha, atormentada e sofredora. Falta tudo neste lar com três adultos e uma criança sofredora.
Jorge é acusado de roubo e assassínio, as circunstâncias recaíram sobre ele, que é preso e condenado.
“…Acompanhei-lhe a prisão imerecida e, sem qualquer recurso para ampará-lo, segui os interrogatórios infernais a que foi submetido, como se fora homicida vulgar. Ora, eu que me anexara aos parentes, desde o instante horrível, para mim, da transição corporal, jamais me senti disposto à submissão. A experiência humana não me proporcionou tempo a estudos religiosos ou filosóficos. Habituei-me muito cedo à rebelião contra aqueles que gozam os benefícios do mundo em detrimento dos desfavorecidos da sorte e, reconhecendo que o túmulo não me revelara qualquer milagroso domínio, preferi a continuidade da vida em meu escuro pardieiro, onde a convivência de Iracema, através de profundos laços magnéticos, de algum modo me reconfortava… Assisti, por isto, com indescritível terror, aos detestáveis acontecimentos. Humilhado, na minha condição de homem invisível para os encarnados, visitei chefias e repartições, autoridades e guardas, tentando encontrar alguém que me auxiliasse a salvar Jorge, inocente…”
Saldanha espírito era mais ativo do que fora Saldanha encarnado. Age em busca de ajudar o filho. Busca onde conhece, não consegue o que deseja, seus sentimentos de revolta se avolumam, ao mesmo tempo que fica imantando magneticamente à Iracema encarnada. Ela não está apenas como espírito junto à família que deixou. Ele está atuante sobre a família encarnada que deixou.
“… Identifiquei o verdadeiro criminoso que, ainda agora, desfruta posição social invejável e tudo fiz, sem resultado, por clarear o processo oprobrioso. Meu filho sofreu todo o gênero de atrocidades morais e físicas, castigado por um delito que não cometeu. Desanimado, por minha vez, de algo recolher de útil, junto aos carrascos policiais que chegaram a improvisar fantásticas confissões da vítima, procurei o juiz da causa, na esperança de interferir beneficamente. O magistrado, porém, longe de aceitar-me a inspiração, que o convidava à justiça e à piedade, preferiu ouvir pareceres de amigos influentes na política dominante, que vivamente se interessavam pela indébita condenação, na ânsia de exculpar o verdadeiro criminoso….”
Ação, ação, ação do desencarnado sobre os encarnados. Decepção, revolta, fluidos de revolta, ódio, vingança…
Continua….