Vamos continuar com nosso estudo do livro LIBERTAÇÃO de André Luiz e Chico Xavier, capítulo 8, Inesperada intercessão.
“Gúbio, seguido por Elói e por mim, a reduzida distância, acercou-se do anfitrião que o contemplava de fisionomia rude, passando, de minha parte, a espreitar o esforço de nosso instrutor para contornar os obstáculos do momento, de modo a não classificar-se por mentiroso, à face da própria consciência…”
É interessante que na situação difícil e perigosa em que se encontravam, onde as palavras precisavam ser medidas e a verdade necessitava ser dosada, por precaução e prevenção, estava a consciência a espreitar e acusar quanto a dizer a verdade ou alguma mentira. Assunto delicado este, que merece uma auto análise de cada um de nós …Precisamos nos expor sempre totalmente em nome da verdade? Existe somente a nossa verdade? E se a nossa verdade é um auto engano? Quais são as consequências quando revelamos “verdades” que podem ser um desvio das nossas avaliações sobre o assunto?
“…Cumprimentou-o Gregório, exibindo fingida complacência, e falou: – Lembra-te de que sou juiz, mandatário do governo forte aqui estabelecido. Não deves, pois, faltar à verdade. Decorrida pequena pausa, acrescentou: – Em nosso primeiro encontro, enunciaste um nome… – Sim – respondeu Gúbio, sereno –, o de uma benfeitora. – Repete-o! – ordenou o sacerdote, imperativo. – Matilde. O semblante de Gregório fez sombrio e angustiado. Dir-se-ia recebera naquele instante tremenda punhalada invisível. Dissimulou, no entanto, dura impassibilidade e, com a firmeza de um administrador orgulhoso e torturado, inquiriu: – Que tem de comum comigo semelhante criatura? Nosso orientador redarguiu, sem afetação: – Asseverou-nos querer-te com desvelado amor materno. – Evidente engano! – aduziu Gregório, ferino – minha mãe separou-se de mim, há alguns séculos. Ao demais, ainda que me interessasse tal reencontro, estamos fundamentalmente divorciados um do outro. Ela serve ao Cordeiro, eu sirvo aos Dragões…”
Pessoas em campos vibratórios muito diferentes, podem conviver de forma muito íntima numa encarnação. Kardec explica no ESE cap 4: “Os Espíritos formam, no espaço, grupos ou famílias, unidos pela afeição, pela simpatia e a semelhança de inclinações… Muitas vezes eles seguem juntos na encarnação, reunindo-se numa mesma família ou num mesmo círculo, e trabalham juntos para o seu progresso comum…. os mais adiantados procurando fazer progredir os retardatários… Assim, eles poderiam percorrer um número ilimitado de existências corporais, sem que nenhum acidente perturbe sua afeição comum. Entenda-se bem que se trata aqui da verdadeira afeição…”
André Luiz continua relatando aquele encontro tenso e perigoso. “…Aquela particularidade da palestra bastava para que minha curiosidade explodisse, indômita. Quem seriam os dragões a que se reportava? gênios satânicos da lenda de todos os tempos? Espíritos caídos no caminho evolucionário, de inteligência voltada contra os princípios salutares e redentores do Cristo, que todos veneramos na condição do Cordeiro de Deus? Sem dúvida, não me equivocava; no entanto, Gúbio lançou-me significativo olhar, certamente depois de sondar-me, em silêncio, a perquirição íntima, convidando-me, sem palavras, a selar os lábios entreabertos de assombro. Indiscutivelmente, aquele instante não comportava a conversação dum aprendiz e devia destinar-se às manifestações conscientes e seguras de um mestre….”
Kardec fala abertamente desta força das trevas dedicada a fazer o mal: “Pode-se, pois, ter inimigos entre os encarnados e os desencarnados. Os inimigos do mundo invisível manifestam sua malevolência pelas obsessões e subjugações, a que tantas pessoas estão expostas, e que representam uma variedade das provas da vida. (cap. 12/6)”
No capítulo 28, item 16, Kardec explica mais sobre o perigo das trevas: “Os maus Espíritos só estão aonde podem satisfazer a sua perversidade. Para afastá-los, não basta pedir, nem mesmo ordenar que se retirem: é necessário eliminar em nós aquilo que os atrai. Os Espíritos maus descobrem as chagas da alma, como as moscas descobrem as do corpo. Assim, pois, como limpais o corpo para evitar as bicheiras, limpai também a alma das suas impurezas, para evitar as obsessões. Como vivemos num mundo em que os maus Espíritos pululam, as boas qualidades do coração nem sempre nos livram das suas tentativas, mas nos dão a força necessária para resistir-lhes.”
Muitos espíritas afrouxam suas defesas, porque se iludem que basta viver em oração e se enganar que está fazendo boas ações, estarão imunes e cheios de defesas contra os ataques de espíritos voltados para o mal. Uma ilusão que só dá trabalho para os protetores destas criaturas. “limpai também a alma das suas impurezas”. O ditado popular fala: de boa intenção o inferno está cheio.
Kardec vai fundo na questão da necessidade das reencarnações para o progresso e evolução de todos os seres. A teoria evolucionista, iniciada pelos estudos de Darwin, na mesma época que viveu Kardec, ainda é assunto novo e de difícil aceitação pelo vulgo. Ontem mesmo desencarnou um grande locutor de rodeio, que fez muito sucesso décadas atrás. Estava em profundo sofrimento físico e moral. Jornais, revistas, programas que exploram a vida dos famosos fizeram aquela cara de quem está sentindo muito e lá vem a frase: ele estava sofrendo muito, agora descansou… Isto é um belo exemplo do quanto a Humanidade rejeita a ideia evolucionista de todos os seres e de si mesma.
No capítulo 4, Necessidade da Encarnação, Kardec explica “A passagem dos Espíritos pela vida corpórea é necessária, para que eles possam realizar, com a ajuda do elemento material, os propósitos cuja execução Deus lhes confiou. É ainda necessária por eles mesmos, pois a atividade que então se vêem obrigados a desempenhar ajuda-os a desenvolver a inteligência… É por isso que Ele concede a todos o mesmo ponto de partida, a mesma aptidão, as mesmas obrigações a cumprir e a mesma liberdade de ação… As diferenças existentes entre os Homens, desde o selvagem até o homem civilizado, revelam os graus que têm de percorrer… Pelas reencarnações no mesmo globo…”
Na introdução do Evangelho, Kardec é minucioso: “Sabe-se que os Espíritos, em consequência das suas diferenças de capacidade, estão longe de possuir individualmente toda a verdade; que não é dado a todos penetrar certos mistérios; que o seu saber é proporcional à sua depuração… Os Espíritos Superiores procedem, nas suas revelações, com extrema prudência. Só abordam as grandes questões da doutrina de maneira gradual, á medida que a inteligência se torna apta a compreender as verdades de uma ordem mais elevada, e que as circunstâncias são propícias para a emissão de uma ideia nova…”
Evolução exige tempo…. séculos… milênios infinitos…
O filósofo Mario Sergio Cortella tem um abordagem interessante sobre evolução: a necessidade da DÚVIDA. Segundo ele, quem não duvida, não PROGRIDE, NÃO EVOLUI. A falta da DÚVIDA, leva à estagnação.
Continua….